domingo, 25 de julho de 2010

Os Domingos da Família Diógenes

Por Kennedy Diógenes

Domingos Paes Botão, Capitão-Mor português que aportou por estas plagas em 1686, na Missão dos Homens de São Francisco, e originou várias famílias importantes do Nordeste Brasileiro, sempre teve deferência especial dos seus descendentes, quando, na pia batismal, davam seu nome aos filhos recém nascidos, em justa homenagem.

Como já abordado no artigo “Genealogia de Domingos Paes Botão a Napoleão Diógenes Paes Botão”, o primeiro Domingos Paes Botão (Sênior), era oriundo de Botão, Concelho e Distrito de Coimbra, e, juntamente com os seus cunhados José da Fonseca Ferreira e Antônio da Fonseca Ferreira, estabeleceram-se na Região de Santa Rosa, atualmente Jaguaribara/CE, o que representou o primeiro grande desafio de colonização desta região sertaneja do Ceará, pois confrontou forte resistência dos índios Tapuias, fazendo-o se transferir para o litoral, em Aquiraz/CE, onde se enveredou na Política (foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal).

O segundo Domingos Paes Botão é neto do Domingos sênior, e filho de Manoel Diógenes Paes Botão e Antônia da Purificação (patriarcas da família Diógenes), estimando-se que tenha nascido entre 1740 e 1760.

Cel. Domingos Paes Botão (segundo), nascido na freguesia do Icó, Coronel de Cavalaria do Icó/CE, casou-se em 23.09.1778 com Teresa de Jesus Maria, egressa de Pernambuco e sua prima legítima, filha de sua tia paterna homônima, Teresa de Jesus Maria, casada com o Licenciado Miguel da Silva, este da família Saldanha.

Como já revelado no artigo acima mencionado, durante o seu matrimônio com a prima, Cel. Domingos Paes Botão (segundo) manteve um concubinato com uma índia do Ceará, possivelmente da tribo Tapuia, chamada Narcisa Dias, com quem teve um filho natural chamado de Quirino de Oliveira. Chama a atenção, Prof. Augusto Lima, em seu Livro Famílias Cearenses 7, que, possivelmente, seja este relacionamento de Domingos com uma índia que tenha originado a lenda da Índia Antônia da Purificação, uma vez que a tradição oral tenta melhorar a imagem familiar, pois, naquela época, havia mais status em se casar com índia do que com mulata, filha de escravo alforriado.

Plínio Diógenes Botão, em seu Livro “Genealogia das famílias Távora, Diógenes, Pinheiro”, registra, às fls. 308, que o terceiro Domingos Paes Botão (júnior), filho do Cel. Domingos Paes Botão (segundo) e Teresa de Jesus Maria, foi batizado em 30 de maio de 1780, seguindo os passos paternos na carreira militar. Contraiu, mais tarde, núpcias com Francisca Maria das Chagas de Jesus, filha de Manoel das Maretas, com quem teve três, filhos, quais sejam, Antônio Paes Botão, Joaquim Supriano Paes Botão e Manoel Diógenes Paes Botão.

Domingos (Júnior) nasceu em um período de profundas transformações, muitas delas sob os eflúvios dos ideais iluministas, tendo vivenciado as agruras de dois importantes momentos políticos no Brasil: Revolução Pernambucana de 1817 (Revolução dos Padres) e da Confederação do Equador de 1824.

Em relação à Confederação do Equador, Domingos (terceiro) e seu tio, Cosme Diógenes Paes Botão, são citados em várias fontes como testemunhas do assassinato do herói e Presidente da Confederação do Equador, Tristão Gonçalves de Alencar, mais tarde Araripe. Em uma dessas fontes, no livro “Baú de Ossos”, de Pedro Nava, com notas de Carlos Drummond de Andrade (11ª ed; Ateliê Editorial/SP), o autor, ao narrar o assassínio de Tristão Gonçalves, sugere uma importante revelação, conforme se verifica no trecho abaixo, pinçado das fls. 164:

“Ele caiu em 31 de outubro de 1824, em refrega bruta e rápida. ‘Está morto, Capitão’. Depois da descarga, vararam-no a sabre, cortaram-lhe uma orelha e a mão direita para servirem de troféus. Encostaram seu cadáver nu e hirto numa jurema. Em pé. Ao sol e ao vento do sertão, ele não de decompôs. Múmia seca, foi levado para Santa Rosa, onde ficou dois meses apoiado a um pereiro e sofrendo o ultraje das pedradas e dos tiros da canalha, até que foi enterrado pela caridade de seu primo, o Coronel Domingos Paes Botão”.

Como se vê, Pedro Nava atribuiu ao Cel. Domingos Paes Botão (terceiro) o parentesco de primo de Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, sendo, em conseqüência, sobrinho de Bárbara de Alencar, tangenciando a família Alencar, do Almirante Alexandrino de Alencar e do escritor José de Alencar (este sobrinho de Tristão Araripe). A veracidade dessa informação deve ser investigada mais amiúde posteriormente.

Um parêntese na história dos Domingos. Nesse mesmo período do final do Século XIX e início do Século XX, há vários atos da recente República Brasileira, que davam conta de importantes fatos da vida diária dos descendentes de Domingos Paes Botão (sênior), conforme se verifica em Decretos do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, publicados em Diário Oficial da União, como as edições de 08 de abril de 1896 (pág. 03, Secção I – remessa às coletorias das patentes dos oficiais José Diógenes Paes Botão, Joaquim Diógenes Paes Botão e Antônio Diógenes da Silva Botão); de 05 de novembro de 1902 (pág. 02, Secção I – nomeação dos seguintes oficiais para a Guarda Nacional: Comarca de Jaguaribe-Mirim: Capitão - Ajudante de Ordens Sizenando Diógenes Pinheiro; Capitão Vasco Paes Botão, Tenente Pedro Paes Botão; Alferes Cornélio Diógenes Saldanha; Capitão Manoel Diógenes Paes Botão – este possivelmente avô de Lafayete Diógenes Maia; Alferes Antônio Diógenes Saldanha; Capitão – Ajudante de Ordens Cornélio Paes Botão; Capitão Francisco Diógenes Paes Botão; Major Fiscal Manoel Diógenes Pinheiro; Tenente Napoleão Diógenes Saldanha; Alferes Hermógenes Diógenes Saldanha); e do dia 28 de abril de 1932 (pág. 4, Seção I – nomeação de Domingos Paes Botão (quarto?) – este homônimo, possivelmente neto do Júnior, para segundo suplente do substituto de Juiz Federal, no Município de Jaguaribe-Mirim.

Depreende-se, dos nomes acima elencados, que já no final do Século XIX, a família Diógenes era extensa, numerosa, intrinsecamente ligada às famílias Saldanha e Pinheiro, que as compartilhavam o mesmo tronco genealógico de Domingos Sênior.

No entanto, as pesquisas devem continuar a fim de que se possa recuperar essa memória familiar importante, devolvendo o brilho ao exemplo de vida desses que antecederam os Diógenes de hoje.

Apesar desse retrato inacabado ora descrito, ainda cheio de lacunas e dúvidas, em virtude da falta de informações, depreende-se que estes ascendentes enfrentaram com bravura as contingências impostas pela vida, e a superação das suas vicissitudes deixaram registrados os seus nomes na história e no coração de seus familiares.

sábado, 17 de julho de 2010

Bilhete manuscrito de Lafayete Diógenes Maia

Por Licurgo Nunes Quarto

Bilhete manuscrito, do próprio punho, de Lafayete Diógenes Maia ao seu genro e compadre Lycurgo, escrito há 65 anos. Uma raridade, alem de ser uma preciosidade. Creio mesmo que é o único manuscrito de Lafayete que não sucumbiu ao tempo:

“Compadre Lycurgo

Peço avisar-me terça feira em que dia reabre-se o normal e o ginásio, pois pretendo botar o José semi-interno. Pretendo ir deixá-los em Mossoró. Queira desculpar o papel e ser a lápis, pois o que tenho na ocasião.
Do sogro, compadre a amigo
Lafayete

Em 24-2-45.”

Observações:

Ao citar José, referia-se ao seu oitavo filho, José Diógenes Sobrinho, que passaria a estudar em Mossoró, semi interno, no então Ginásio Diocesano Santa Luzia, hoje o centenário e legendário Colégio Diocesano Santa Luzia. José Diógenes ficaria morando na casa da irmã e cunhado (Cristina e Lycurgo), e, por ser semi interno, passaria o dia no colégio.

Ao se referir “o normal”, ele quis dizer ‘Escola Normal”, que era uma escola em que estudavam moças que pretendiam ser professoras. E, nela, estudava a sua filha Maria Alzir.

Quando fala em “deixá-los”, está explícito que queria dizer José Diógenes e Maria Alzir.

Portanto, Maria Alzir e José Diógenes, estudando em Mossoró e residindo na casa da irmã e cunhado Cristina/Lycurgo.

Referindo-se ao genro como “compadre”, Lafayete exercia o direito de fazê-lo, uma vez que Lycurgo era o padrinho de crisma de Francisco Sebastião Diógenes, seu Chiquinho, o filho caçula.

Outra constatação que se faz da transcrição do bilhete é que ele, ao assinar, o faz com um “Y” (ípsilon), dirimindo qualquer dúvida quanto à grafia correta do seu nome.

Olhando-se com atenção à data do bilhete transcrito – 24/02/1945 – constata-se que o mesmo foi escrito vinte dias antes do seu falecimento, uma vez que este ocorreu a 13 de março de 1945.

Cristina, por estar cuidando da sua filha Maria Cristina, recém-nascida, pois estava com apenas dois meses de idade (haja vista que nasceu a 13 de janeiro de 1945), e, portanto, sem condições de se ausentar de casa, mandou que José Diógenes e Maria Alzir acompanhassem o pai Lafayete até à estação ferroviária, a fim de que ele embarcasse de volta à Melancia. Foi nesse momento, então, que Lafayete, ao chegar à aludida estação de trem, sofrendo um infarto fulminante, foi a óbito, na presença dos filhos menores Maria Alzir Diógenes (com 18 anos) e José Diógenes Sobrinho (com 15 anos).

sábado, 5 de junho de 2010

Primeira visita de Lafayete e Alzira à Cristina e Lycurgo - Santana do Matos - 1939

Por Lycurgo Nunes Quarto

A foto registra a primeira visita feita por Lafayete Diógenes Maia e Alzira Fernandes Diógenes, acompanhados dos filhos Luiz Gonzaga Diógenes, Napoleão Diógenes Fernandes e Fernando Diógenes Fernandes, à sua filha Cristina Diógenes Nunes e ao genro - o então Promotor de Justiça Lycurgo Ferreira Nunes – recém-casados, residentes em Santana do Matos – RN, primeira Comarca em que Lycurgo exerceu o mister de representante do Ministério Público Estadual.
Histórica, na medida em que a referida visita se dava a título de reconciliação, uma vez que, por motivos políticos (as famílias de Lafayete e Lycurgo militavam em partidos políticos divergentes), Lafayete não queria nem aceitava o casamento de Cristina, sua filha mais velha, com um membro da família Ferreira Nunes, adversários políticos em Pau dos Ferros.
Cristina, estudando em Mossoró e morando na casa de um seu tio-avô – o Sr. Pedro Fernandes Ribeiro, o tio “Pedrinho” - e contando com a ajuda e o beneplácito do citado tio e de um casal parente e amigo (Raimundo Nonato Alfredo Fernandes/Alzenita Fernandes), programou o casamento com Lycurgo para o dia 12 de fevereiro de 1939, sem o devido consentimento ou até mesmo conhecimento dos pais Lafayete/Alzira que residiam na Fazenda Melancia. A cerimônia foi realizada na casa do casal citado, às 08:00 horas, e celebrada pelo famoso e legendário Padre Motta, amigo do noivo.
Frise-se que as rusgas e as divergências existentes entre Lafayete e Lycurgo foram logo dissipadas, tanto é que, no mesmo ano do casamento, ou seja, em 1939, Lafayete empreendeu a citada viagem em busca da reconciliação, no que obteve pleno êxito, uma vez que se tornaram amigos, aonde o respeito, a consideração e o bem querer eram mútuos e uma constante entre sogro e genro.
Lycurgo era o único genro, pois, dos doze filhos do casal Lafayete/Alzira só havia duas mulheres – Cristina e Maria Alzir – e, esta, celibatária convicta, nunca casou.

LEGENDA DA FOTO:
Da esquerda para a direita:
Adultos:
Alzira Fernandes Diógenes, com 41 anos
Lafayete Diógenes Maia, com 45 anos;
Luiz Gonzaga Diógenes, com 19 anos;
Crianças:
Fernando Diógenes Fernandes, com 05 anos e
Napoleão Diógenes Fernandes (Pipiu) com 07 anos.


quinta-feira, 3 de junho de 2010

Fórum Eleitoral Lycurgo Ferreira Nunes

A Justiça Eleitoral do RN prestou uma grande homenagem ao
Desembargador Lycurgo Nunes, quando, no dia 27 de maio de 2010, inaugurou
um moderno prédio que servirá de Fórum Eleitoral à Cidade de Pau dos
Ferros e demais cidades componentes 40ª Zona eleitoral. Deu, ao
referido fórum, o nome de "Fórum Eleitoral Desembargador Lycurgo
Ferreira Nunes".

sábado, 29 de maio de 2010

Casamento de Deinho e Tininha - 1964


Por Licurgo Nunes Quarto

LEGENDA DA FOTO DO CASAMENTO DE MARIA CRISTINA  DIÓGENES NUNES MARCELINO/JOSÉ MARCELINO NETO (DEINHO), REALIZADO A 12 DE FEVEREIRO DE 1964, EM NATAL - RN.

Identificando apenas os membros da família Diógenes, e seus respectivos agregados, uma vez que a foto está direcionada ao Blog www.familiadiogenesnobrasil.blogspot.com.

O casamento acima referido foi realizado no dia em que o casal Licurgo Nunes/Cristina Diógenes, pais da noiva, comemorava as “bodas de prata”, ou seja 25 anos de casados.

A foto foi feita na rampa que dava acesso à varanda da casa, localizada à rua Apodí, 597, vizinha à Igreja de Santa Terezinha, no Tirol, em Natal – RN,  em cuja casa  morava o casal Licurgo/Cristina e filhos. A citada casa foi demolida e em seu local foi erguido um Edifício residencial.

Última fila da esquerda para a direita: Licurgo Nunes Terceiro, com 21 anos (é o de paletó, onde a gravata está bem evidenciada); Pedro Diógenes Fernandes, com 40 anos (lá atrás,  o último da esquerda); Francisco Sebastião Diógenes, Seu Chiquinho, com  27 anos; Licurgo Nunes Quarto, com 16 anos (ao lado de seu Chiquinho);  Lafayete Diógenes Neto (Diosneto), com 22 anos ( o terceiro após Licurgo Quarto); Antonio Diógenes Fernandes, (Toinho), com 31 anos (é o mais alto); Pergentino Bezerra, casado com Cristina Diógenes Bezerra, que era  filha de José Diógenes Maia (ao lado esquerdo de Toinho); Oda Rodrigues Diógenes, com 27 anos (à frente de Toinho);

Fila onde estão os noivos (também da esquerda para a direita): Maria da Conceição Diógenes Nunes, com 17 anos (é a 2ª do lado direito da noiva); Severina Chaves Filha, Ceci, com 16 anos (ao lado da noiva); a noiva, Maria Cristina Diógenes Nunes Marcelino, com 19 anos; o noivo, José Marcelino Neto, Deinho, com 26 anos; Licurgo Nunes Quinto, com 13 anos; Cristina Diógenes Nunes, mãe da noiva, com 46 anos; Licurgo Nunes Júnior, com 23 anos; Licurgo Ferreira Nunes, pai da noiva, com 54 anos; Maria Alzir Diógenes, com 37 anos; Alzira Fernandes Diógenes, avó da noiva, com 66 anos ( é a de preto).

Fila das crianças, da esquerda para a direita: Lúcia de Fátima Freire Diógenes, com 10 anos (em frente à noiva); Maria Carmen Freire Diógenes Rego, com 07 anos (é a que está com o braço esquerdo flexionado, em frente a Lúcia); Licurgo Nunes Sexto, com 11 anos (de paletó, em frente ao noivo) e, finalmente, Pedro Diógenes Júnior, com 08 anos (de calça curta à frente de duas crianças de paletó).

sexta-feira, 28 de maio de 2010

"Causos de Pipiu Diógenes"


Por Licurgo Nunes Quarto

“Pipiu Diógenes” (Napoleão Diógenes Fernandes), agropecuarista e Funcionário da Agência dos Correios e Telégrafos de Pau dos Ferros, estava sentado à sua calçada, à tardinha, quando viu que “Pedro de Nicolau”, um seu compadre e vizinho de propriedade, caminhava apressadamente em direção ao Quartel de Polícia.

Sabedor de que o referido compadre tinha um filho meio “trabalhoso” e percebendo a agitação que tomava conta do pai aflito, não se conteve e gritou: “Compadre Pedro, o que está ocorrendo?” O amigo se aproximou e contou: “Compadre Pipiu, é que o meu filho se meteu em uma briga lá na Praça da Matriz e foi preso. O que é que eu faço? Estou desesperado”. Pipiu, do alto da sua sapiência, e querendo ajudar ao compadre preocupado, disse: “Olha compadre, não sei se é verdade, mas, o que dizem por aí é que, com qualquer dez reais o delegado solta na hora”. “É mesmo compadre Pipiu?”, exclamou o pai angustiado. “Então vou lá agora”. Pipiu, depois de orientar como proceder, ficou na maior expectativa para saber o resultado. Meia hora depois, lá vinha o compadre “Pedro de Nicolau” de volta, trazendo o filho ao lado. Pipiu, sem conter a ansiedade, foi logo perguntando, sem deixar nem que o referido compadre se aproximasse: “E aí, Pedro, ‘dezzinho’ mesmo?” “Que nada compadre” – respondeu Pedro – “com ‘cinquinho’ mesmo eu resolvi”.

Outra com Pipiu:

Cansado de chegar à sua Fazenda “Melancia” e encontrar embriagado um seu trabalhador rural, conhecido por “Chico de Zé Quileto”, Pipiu Diógenes lançou um “ultimatun” ao operário: “Chico de Zé Quileto, da próxima vez que eu chegar aqui e lhe encontrar bêbado, não tem conversa; eu lhe dispenso; mando-lhe ir embora”. “Tá certo, Senhor Pipiu, o senhor tem razão”, concordou o infeliz morador.

Na semana seguinte, ao chegar à propriedade rural, Pipiu percebeu, de longe, que Chico estava “melado” novamente. “Ah, meu Deus do Céu! Olha só Araní, lá está Chico bêbado de novo”. “ Araní, hoje ele vai embora”. “Chiiiico, venha cá, você tá bêbado outra vez?” “O que foi que eu lhe disse?” “’Mas’ seu Pipiu, eu não ‘tô bebo’ não”, retrucou o pobre coitado. “Tá não, é? Então faça um quatro aí, com as pernas, prá ver se consegue”, desafiou o patrão. “Mas, Seu Pipiu”,(retrucou Chico), “se eu sou ‘anarfabeto’, como é que eu vou fazer um quatro”.

sábado, 22 de maio de 2010

Dr. Pedro Diógenes Fernandes - Homenagem Póstuma

Por Licurgo Nunes Quarto

(Homenagem póstuma prestada por Licurgo Nunes Quarto, quando da realização da festa anual de confraternização da Família Diógenes).

Pau dos Ferros, o Alto Oeste Potiguar e o Rio Grande do Norte perderam, há poucos dias, um grande homem público, um excelente administrador, um profissional liberal de primeira grandeza, além de um grande entusiasta e grande incentivador e apoiador desta nossa festa de confraternização. E eu, particularmente, perdi um tio, dos mais respeitados e queridos, bem como perdi um amigo e um colega de profissão.

Refiro-me ao Dr. Pedro Diógenes Fernandes, um Diógenes, na acepção da palavra, que possuía, que carregava consigo todos os caracteres peculiares a um Diógenes autêntico, quais sejam a disposição para o trabalho, a lealdade, a amizade, a solidariedade e a firmeza nos propósitos, legados estes herdados do casal precursor, os seus pais, Lafayete Diógenes Maia e Alzira Fernandes Diógenes.

Aluno destacado do Centenário e legendário “Grupo Escolar Joaquim Correia”, aonde já chegou alfabetizado, - “sabendo ler e escrever e fazendo as quatro operações matemáticas” ( Maria Luzinete de Lima, em “Doutor Pedro Diógenes Fernandes: sua influência na história e na cultura do alto oeste Potiguar”, pag. 75 ) pois teve o privilégio de ter em casa uma professora diplomada, a sua mãe Alzira Diógenes.

Neste estabelecimento de ensino primário, foi aluno do Professor Manoel Jácome de Lima, o Professor Dubas, que viria a se tornar uma das maiores referências do ensino no nosso Rio Grande do Norte, bem como o grande pesquisador da história de Pau dos Ferros. Seguiu, então, o adolescente Pedro Diógenes para Mossoró, quando estudou no não menos legendário e centenário Ginásio Diocesano Santa Luzia, para cursar o ginasial e daí para Natal onde cursou o científico no Colégio Estadual do Atheneu Norteriograndense.

Com determinação e o firme propósito de fazer o curso superior de odontologia, fixou residência em Recife. Concluindo o curso superior de Odontologia na Faculdade de Medicina e Odontologia do Recife, e declinando do honroso convite para lecionar a disciplina de Cirurgia na referida faculdade, optou em voltar a Pau dos Ferros, às suas origens, ao seu torrão natal, ao seu nascedouro, num sentimento atávico de servir à sua terra e à sua gente, numa espécie de retribuição à terra que lhe dera o berço, tornando-se o primeiro pauferrense com nível superior em odontologia a exercer o mister da profissão na sua Cidade. E o fez de maneira digna, honrosa e ética.

Dizia sempre que “aquele que não é capaz de servir à sua terra, à sua gente, não seria capaz de trabalhar ou de servir à terra de ninguém”.

Em todas as atividades que lhe foram confiadas, bem como em todas as funções que lhe foram outorgadas, Pedro Diógenes se houve de maneira brilhante, exercendo-as de modo a que lhe fossem atribuídos grandes méritos. Trabalhador incansável, fez da labuta diária uma constante em sua vida.

Trabalhou em todos os serviços públicos de saúde de Pau dos Ferros e cidades circunvizinhas. Desde hospitais, postos de saúde a sindicatos e associações beneficentes.

Tesoureiro geral da Prefeitura Municipal de Pau dos Ferros, na administração do Prefeito Licurgo Nunes, inovou a maneira de cobrar os tributos municipais, tornando-se um tesoureiro vigilante, brioso e responsável com o erário público.

Professor de matemática e ciências, e diretor de vários estabelecimentos de ensino, durante três décadas, contribuiu em muito para a formação cultural e intelectual de algumas gerações de pauferrenses.

Qualquer empreendimento que se planejasse ou que se iniciava em Pau dos Ferros – quer na fundação de clubes de serviços – como Clube Centenário Pauferrense (CCP) ou Lions Clube - como na formação de alguma comissão que visasse a criação de qualquer sociedade beneficente ou sindicato, ter-se-ia que incluir o Dr. Pedro Diógenes na sua formação. E tê-lo era a certeza de sucesso na empreitada, pois o Dr. Pedro Diógenes era sinônimo de organização, de responsabilidade e, acima de tudo, de “dar conta do recado” em qualquer missão que lhe fosse confiada.

Eleito Prefeito Municipal de Pau dos Ferros, realizou uma administração eficiente, moderna, diligente, com grandes realizações e obras que se sobressaem ainda nos dias atuais. Muito honesto e cioso das suas responsabilidades, fez da sua administração, frente à Prefeitura, um laboratório de como ser um grande gestor das finanças e dos bens públicos, coisa rara, aliás, nos dias atuais.

Esposo dedicado e amoroso, teve na Professora Maria do Carmo Freire Diógenes sua companheira, esposa e amiga de todas as horas, numa feliz união que perdurou por 55 anos. A Professora Maria do Carmo foi uma grande baluarte e auxiliar do Dr. Pedro Diógenes na árdua e difícil tarefa de administrar o lar e criar os filhos, corroborando com o preceito que diz que “ao lado de um grande homem existe sempre uma extraordinária mulher”.

O exemplo que ele deixa de homem probo, íntegro, honesto e trabalhador é um lenitivo, um conforto, não somente para a Professora Maria do Carmo, sua dedicada esposa, que está a prantear a sua partida, mas é, sobretudo, um legado aos seus irmãos Luiz Gonzaga Diógenes, José Diógenes Sobrinho, Antonio Diógenes Fernandes e Francisco Sebastião Diógenes (tio Chiquinho, o caçula) remanescentes da prole de dez filhos do casal Lafayete Diógenes Maia/Alzira Fernandes Diógenes, cuja prole era ainda composta por Cristina (minha mãe, de saudosa memória), Aldair (carinhosamente chamado por todos os sobrinhos de tio Dadá) , Maria Alzir (a nossa tia Zizi, mulher dinâmica e avançada no seu tempo), Napoleão (Pipiu, o grande Pipiu da “doce Arani” ), Fernando (tio Nanando – o Aragão), bem como aos seus filhos Lucia de Fátima Freire Diógenes, Pedro Diógenes Júnior (in memorian) e seus filhos, Maria Carmem Freire Diógenes Rego, Ângela Cristina Freire Diógenes Rego, José Otávio Freire Diógenes e Francisco Lafayete Freire Diógenes.

Que Deus, na sua infinita bondade, e Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de todos nós pauferrense nos dêem, a todos, a devida conformação pela sua partida, bem como a certeza de que para o Dr. Pedro Diógenes Fernandes há um lugar reservado no reino dos céus.

Esta é, pois, caros parentes e amigos, a homenagem que presto ao Dr. Pedro Diógenes, meu tio, amigo e colega Dentista - repito - e peço a todos os presentes a esta confraternização que, cada um a seu modo, e à sua maneira, em um momento de introspecção, elevem as mentes aos céus em sua memória.
Muito obrigado.

Pau dos Ferros, RN, em 18 de julho de 2009.
Licurgo Nunes Quarto - Cirurgião Dentista - licurgoquarto@digizap.com.br

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Pecado da Gula - Hildebrando e Áurea Diógenes

Por Licurgo Nunes Neto

A sombra do serrote avançava ligeira e já envolvia todo o terreiro. Mais alguns minutos e se perderia no infinito, avisando à brisa da boquinha da noite que pode começar a soprar para baixar o fogo do dia. O vaqueiro já tinha voltado da manga com a vacaria e chiqueirado os bezerros, garantindo o leite da manhã seguinte. Galinhas e patos já procuravam seus lugares altos no poleiro improvisado na cajarana, com a algazarra típica de quem foge da morte rasteira por nome de cobra e raposa.

Lá longe, fundindo-se com o dourado do horizonte, surge uma forma tremeluzente de contornos incertos, mas de fácil identificação para o olho experimentado do sertanejo: é um cavaleiro. Uma figura volumosa balança de um lado para o outro por arte da pequena gangorra nas ancas do animal.

Ombros largos e preguiçosamente caídos, uma mão na lua da sela, a outra se esforçando para vencer a pança e alcançar as rédeas. Os pés teimam em escapar dos estribos, preferindo o balançar aleatório no vazio. Altivez e harmonia, definitivamente, não descrevem o paladino. Áurea aperta os olhos e se pergunta: “quem é meu Deus, a esta hora?”. Mas antes que aquela silhueta encontre um par em sua memória, a mulher é interrompida pelo lamento do marido, que vem com um esgar dos que sofrem de verdade: “valha-me Deus... acabou-se a comida de minha casa! Hildebrando tá chegando.”

Suassuna sabia que não lidava com um amador. Desobrigado pelos recursos de família da virtude do trabalho, Hildebrando aquietava sua alma nos prazeres simples da vida, em especial no melhor deles, conforme seu julgamento: comia com gosto e sem limites. Era um glutão. Com certo enfaro, contava as horas entre uma refeição e outra tendo por passatempo a administração da fazenda do melhor local possível: seu trono balançante entre os tornos mais fixes do alpendre.

Foi de lá que uma vez se viu confrontado com uma praga rogada por uma cigana, desgostosa que estava com a resposta ao seu pedido de esmola: “tem não!”. A andarilha, mitologicamente afeita ao sobrenatural, vaticinou: “pois uma cascavéia vai picar ocê no caminho do roçado!”. Hildebrando, cuja pele alva jamais esteve ameaçada pelos rigores do sol sertanejo, que só conhecia o roçado por ouvir dizer, pega numa das varandas da rede e num movimento sincronizado de braço e corpo envolve-se no linho, dizendo precavido: “só se ela cair do telhado!”.

Áurea, feliz em ver o irmão, apressa-se nas boas-vindas: “vamos apear, Brando...”. O irmão agradece a gentileza: “já almoçaram? Viagem longa”. A observação provoca um leve tremor em Suassuna, como o prenúncio de uma grande desgraça. “Você janta com a gente e pernoita por aqui”, resolve a irmã. Era o que o viajante queria ouvir.

A visita do irmão era uma das poucas alegrias na vida de Áurea. O casamento tinha-lhe retirado o convívio da família e ao mesmo tempo lhe apresentado a uma nova sorte de valores, ou à falta deles: até então não sabia o que era privação, mesquinharia e pequenez d’alma. O enlace foi apenas o início de suas agruras. Em suas últimas conversas com o sobrinho que lhe visitava semanalmente em seu exílio final, Mossoró, dizia-lhe com uma clarividência incomum para quem já perdera a luz dos olhos: “Júnior, na vida você precisa se precaver dos ‘cinco esses’”. E completava: “Saudade, Solidão, Suassuna, Saldanha e Satanás!”. Vitimada pelo encontro forçado com os primeiros quatro algozes, argumentava aos céus que não merecia a companhia do último. No que concordam os Diógenes que aqui ficaram.

Na meia hora de prosa no alpendre, o visitante atém-se sempre ao essencial, de modo a não prolongar sua espera. A conversa é boa, mas saco seco não se põe falante. Áurea, encarregando-se pessoalmente das orientações à criadagem, cuida para que o jantar seja farto, digno da voracidade do conviva. Suassuna, de hábitos frugais à mesa, parte pelo corpo franzino, parte pela excessiva previdência material (confundida pelos mais azedos com avareza pura e simples), testemunha a derrubada de um cuscuz, duas canecas de leite gordo, oito ovos de capoeira, uma banda do queijo coalho que ainda curava no cincho, uma mão-de-vaca que escapara do almoço, três tapiocas com nata e uma caçarola de coalhada com um pacote de bolachas sete-capas esmigalhadas com as mãos. Tudo isto intercalado por “homem, você morre”, “é um animal” e “ô, jumento”, ditos com desesperança e pesar pelo anfitrião. Uma terrina de doce de leite ao final, um arroto ritualístico de satisfação e todos se recolhem. O casal em seu quarto, Hildebrando no alpendre.

Áurea termina suas orações, deita-se de lado e dorme. Suassuna tem por hábito à rede envolver-se na contabilidade da fazenda e nas maquinações de vida, mas naquela noite o sono tem outro motivo para demorar a chegar: um ronco gutural emerge do alpendre e se espalha pela casa, como só em noites de trovoada se vê por aquelas bandas de Patu.

Decidido a dormir, Suassuna passa a usar o ronco de Hildebrando para dar ritmo ao balanço da rede, que é empurrada por um leve empurrão de seu pé contra a parede. Mas aquela não era uma noite de Morfeu. O ronco desaparece gradualmente e há agora em seu lugar um gemido. De início bem baixinho, quase entre os dentes, cresce em intensidade e dor. Logo emerge daquele alpendre uma sinfonia de carpideira: “aaaêê... uhhmmm... aaaaai...”. O prantear pungente comove Suassuna: “Áurea, teu irmão tá morrendo”.

Áurea acorda, mas não entende o que acontece. O marido explica sem demora: “um homem sem estilo destes tem de morrer empanzinado. Vai lá e acode o desgraçado com um chá de boldo”. O alpendre estremece: “Uhhmm... aêmedeus...”.

A mulher abre a porta e fecha o robe até em cima, cuidando do sereno da noite. Vai até a rede do irmão e enquanto caminha pelo tijolo batido o marido espera do outro lado da janela com um discreto sorriso de satisfação nos lábios, certo de que presencia uma rara cena de punição dos pecadores. Áurea chega à rede do irmão. Àquela distância, os gemidos são lancinantes e transformam seu ceticismo em preocupação sincera pelo estado de Hildebrando. Ela balança de leve o punho da rede e pergunta: “Brando?”. O homem, que antes se contorcia de um lado para o outro, espicha-se para trás buscando aquela voz caridosa e, como se estivesse diante de uma aparição da Virgem, diz: “Ááááurea! Grazadeus. Ô Áurea, pelamordedeus, vá olhar se aquele munguzá já dá um caldo! EU TÔ MORRENDO DE FOME!”

...

Do outro lado da janela, o sorriso se desfaz: “é um animal!”.

domingo, 9 de maio de 2010

Histórias de José Diógenes Maia e sua família

Por Fábia Diógenes* 

Espontaneidade , generosidade  e  alegria eram as características mais marcantes do meu avô, Cel. José Diógenes Maia, segundo minha mãe, Maria Adelvise Dantas (in memorian), a terceira filha mais velha do seu primeiro casamento. Acredito que até hoje estas mesmas virtudes se caracterizaram como uma herança genética extensiva a todos os descendentes da família Diógenes.

José Diógenes Maia, mais conhecido pela alcunha de *Coronel Zé Diógenes, era filho do *Capitão Napoleão Diógenes Paes Botão e Cristina Fernandes Maia. Tinha estatura mediana e pele clara avermelhada. Quando jovem, começou seus estudos no intuito de cursar Medicina, depois desistiu e entrou para o Colégio Salesiano, destinado a ingressar no Seminário de Padres, quando aprendeu a falar o Latim. Como era muito festeiro, certa vez descobriram que fugira para dançar em bailes, sendo por este motivo expulso.


Foi político (nomeado), embora nunca tenha exercido o mandato, segundo minha mãe e algumas tias, provavelmente Deputado. E eu pude confirmar o fundamento desta história, ao ler partes destacadas do texto abaixo transcrito na íntegra da Wikipédia do Google: 

"Executivo municipal. Outrora Jaguaribe não dispunha de eleições para prefeitos. Eles eram nomeados por aqueles possuidores de maior poder econômico. Os primeiros partidos existentes foram UDN, que tinha como um dos principais membros, o Celso Barreira Filho, e o PSD, composto pela família Diógenes. Ambos eram compostos por famílias poderosas da região.  Em 1965, foram abolidos os velhos partidos e surgiram dois novos. Arena e o MDB, criados pelo Marechal Castelo Branco. A Arena era formada pelas classes dominantes, fazendeiros e grandes comerciantes. Já o MDB, era formado por um pequeno número de militantes com  ideologia, mas sem poder econômico para barganhar os votos e vencer uma eleição".

Cel. Zé Diógenes se desinteressou pela política, muito provavelmente por ser proveniente de família abastarda, além de ter muitas responsabilidades, já que era proprietário de vinte e sete (27) propriedades (depois do inventário de sua morte, as propriedade foram distribuídas, sendo três para cada uma das suas nove filhas do seu primeiro casamento com Teresa Dantas de Araújo).

As suas primeiras núpcias foi com Teresa Dantas de Araújo, passando esta a se chamar Teresa Dantas Diógenes, filha de Francisco Dantas, que era político e proprietário das terras onde surgiu a cidade no Oeste Potiguar, que tem hoje o seu nome. Teresa tinha, como irmã, Idezite, esposa do Dr. Cleodon Carlos de Andrade e Elvira, avó do Deputado Clóvis Motta.

Eram, José Diógenes e Teresa, os antigos proprietários e moradores da casa grande de trinta e oito (38) cômodos construída no final do Século XVIII (herdada do seu pai, Napoleão Diógenes), que ainda hoje ostenta a aristocracia da família a conferir-se pelo detalhe na cumeeira onde se pode ver *eira e beira; localizada na Fazenda Trigueiro, no Município de Pereiro, Ceará/Brasil. 

Deste casamento com Teresa, conhecida pela alcunha de Dôna Têca ou Têca Dantas, tiveram as filhas: Francisca (Ciquinha), Cristina (Titiu), Maria Adelvise (Vizinha), Rocilda (Dodô), Ercília (Cilô), Dezuite, Ezilda (Dodoca), Maria Gizelda (Xanana), Maria Diosneci (Cizinha). Eram consideradas pela sociedade como belas moças, bem feitas de corpo, que se trajavam muito bem (Adelvise, usava chapéus, trusses de prata, jóias etc ) e segundo o costume da época,  frisavam (faziam permanente) e usavam bananas (tipo de penteado) nos cabelos; de boa conduta, finas, educadas e bastante prendadas. Sabiam: cozinhar, bordar, costurar; inclusive a minha mãe aprendeu a costurar tubinhos para as criadas aos dez anos de idade, escondido da mãe. Como conheciam normas de etiqueta social, eram solicitadas para receberem as autoridades nas cerimônias dos bailes da Prefeitura de Pau dos Ferros.

Foi num desses bailes que minha mãe, Maria Aldevise, filha do Cel. Zé Diógenes, conheceu meu pai, Natanael Alves Grangeiro. Bonito e alto, apesar de muito sério, encantava toda a moçada. Na ocasião, entrou no baile, vestindo um elegante terno de linho branco escocês e sapatos pampa (de duas cores, que era fashion naquela época). Do amor á primeira vista e posteriormente confirmado o seu caráter e personalidade por todos que o conheciam, como um comerciante próspero (que negociava cavalos e algodão), honesto, bom filho, equilibrado e sem vícios, namoraram, noivaram e se casaram dentro de três meses; sendo Natanael, naquela época, um dos fundadores do Clube Centenário Pau-Ferrense e da Sede do Lions Club em Pau-dos-Ferros. Foram felizes até que Adelvise desencarnou em dezembro de 1994, vítima de enfarte. 

Dessa união, Natanael e Aldevise tiveram os filhos: Idalécio, José Ivanécio, Maria de Fátima que se formaram todos três em Medicina e a caçula temporã, Fábia Maria que se formou em Odontologia. Residiram na Avenida Getúlio Vargas, em Pau dos Ferros até se transferirem definitivamente para Natal. Natanael ainda hoje permanece vivo e saudável, com os seus 88 anos.

Espirituoso e brincalhão, o Coronel Zé Diógenes sugeriu que as filhas dominassem, cada uma delas, pelo menos um ou dois instrumentos musicais para tocar, até que ele adormecesse. Por causa disso, minha mãe aprendeu sozinha, sem mestre, a tocar cavaquinho aos dez anos de idade e com o tempo, banjo, e violão (que dominava totalmente); solando neste qualquer música só de ouvido. Muito alegre e espontâneo, era comum ás filhas de José Diógenes vê-lo brincar e dizer coisas engraçadas.

A casa grande era conhecida pelas apoteóticas festas promovidas por José Diógenes Maia, festas estas que duravam três dias com três noites sem parar. Matavam-se muitos bois, carneiros e aves e se contratavam duas bandas de músicas que se reversavam sem parar. Espirituoso, José Diógenes gostava de tomar uns drinks socialmente, apenas para ficar mais alegre, puxando fogo, como dizia. E num dia desses em que estava puxando fogo, foi até a cidade, entrou numa sapataria e mandou o vendedor colocar todos os pares de sapatos femininos que viu, em dois caçoares e os levou até a casa grande para distribuir com as filhas. O problema é que nesta pressa do vendedor e para a surpresa das filhas, nem todos os pares estavam completos.

As moças andavam de charrete, havia na fazenda campo de voleyball, e muito posteriormente, uma lambreta. O primeiro carro que subiu a serra de Pereiro na época (com uma buzina bastante estridente), foi de José Diógenes, causando espanto de toda a população da região; que nunca haviam visto coisa parecida.

Diziam que o Capitão Napoleão era um homem rígido, muito poderoso e rico. Como naquele tempo não haviam Agências Bancárias, ele chegava a encher caçoás e transportar suas moedas esterlinas de ouro. José Diógenes, bem menos rígido que o pai, muito maleável, tratava bem a criadagem enorme (contava minha mãe que tinha criada até para lavar os seus pés) e era muitas vezes bastante generoso, pois sempre que andava a cavalo e encontrava filhos de escravos foragidos feridos, conduzia-os dentro de caçoás, até a casa grande para que fossem tratadas as suas chagas, quando davam-lhes de comer e beber até que se recuperassem e pudessem seguir os seus caminhos. Minha mãe, ainda meninota, cuidou de alguns desses e até em certas ocasiões, fazia as vezes de enfermeira, trocando os curativos e encanava-lhes os braços. Também era amigável aos ciganos que apareciam em suas terras. Espirituoso e sagaz, quando estava de bolsos bem cheios, costumava se arrumar para ir á cidade, com a roupa mais velha e simples, bem despojado (para disfarçar); quando estava de bolsos vazios, vestia o melhor terno, se penteava e perfumava (para levantar o astral).

Houve uma época difícil para a família Diógenes na casa grande quando o o Cel. Zé Diógenes, a sua esposa, as nove filhas e a criadagem toda, tiveram de abandonar a casa, e se refugiar dentro das matas, aterrorizados com medo do Cangaceiro Lampião e seu bando.

Há um fato interessante sobre a botija da casa grande. Antigamente, como não existia TV, nem DVD, as famílias e alguns criados, ao terminarem de jantar, costumavam ir para a calçada da casa para conversar, ouvir estórias de trancoso, etc. Numa noite dessas, José Diógenes displicentemente comentou que sonhara na noite anterior com alguém te indicando um local na calçada, a contar de tantos em tantos tijolos (enormes), onde estaria enterrada um botija de moedas esterlinas de ouro. Ao amanhecer o dia, Dona Têca, sua esposa, mandou um molecote chamar o responsável pela ordenha das vacas. O menino apareceu correndo e bastante assustado, com olhos bem arregalados e avisou que todos daquela casa fugiram sem deixar vestígios. 

Posteriormente, o vovô percebeu uma concavidade de forma circunferencial na calçada, como se ali existisse algo como uma enorme panela de barro, exatamente no local aonde ele sonhou existir uma botija. Com o passar do tempo, soube-se que o criado que fazia a ordenha estava próspero e até teria montado uma joalheria em Fortaleza. Muito tempo depois, minha mãe sonhou com a existência de uma outra botija no sótão; só que quando escavaram, encontraram apenas ossos de recém-nascidos, que supunham-se ser de filhos de criadas quando abortavam já que era neste sótão, que as escravas pariam.

O Coronel Zé Diógenes enviuvou quando sua esposa Teresa, apenas com 43 anos, veio a falecer de câncer de útero. Tempos depois, casou-se com Delcide e teve com esta os cinco (5) filhos: José Dênis, Napoleão (falecido), outro conhecido como Sisiu (que casou-se e foi morar em Fortaleza) e mais outros dois outros filhos. A sua morte se deu por causa de um traumatismo (causado por um ossículo de ave) na língua, ocasionando um ferimento que exacerbou-se e cancerizou por ter sido um fumante. Após a sua morte e inventário, as suas terras foram distribuídas entre suas nove filhas, herdando cada uma delas três fazendas. A casa grande, passou a ser habitada por Delcide e os filhos deste segundo casamento. Depois de viúva, Delcide veio a se casar com o Sr. Manoel e não sei se desta união ainda tiveram filhos.


Quanto á possibilidade da existência de alguma miscigenação: hoje, muitos historiadores e ensaístas tem procurado encontrar alguma remota possibilidade de miscigenação ascendente na nossa família, existindo duas hipóteses: a de existência de uma ancestral indígena e a outra, de que esta mesma ancestral não era índia e sim mestiça. No entanto, eu, particularmente, não vejo a menor possibilidade da veracidade da segunda suposição, porque cresci ouvindo da minha falecida mãe e algumas tias, da total inexistência de miscigenação negra ou parda ascendente, da minha geração para trás; e até porque não há provas concretas, apenas uma suposição de alguém. 

Também era comum casamentos dentre os membros da mesmas famílias, ou somente entre as famílias mais tradicionais. Temos, inclusive na nossa família, diversos casamentos entre primos consangüíneos, como é o caso da minha tia Dezuite Diógenes, que casou-se com o primo legítimo e  Ex-Deputado Estadual, Ex-Secretário de Finanças e Ex-Prefeito de Pau dos Ferros, Paulo Diógenes; Maria das Graças Diógenes conhecida como Dadaça, filha de Agábio Diógenes, irmão de Paulo, que casou-se com o primo Sebastião Diógenes; Petinha Diógenes,  irmã de Paulo Diógenes que casou-se com o primo Mardônio Diógenes entre tantos outros casos.

O que eu sempre soube, desde criança, é que possuía como ancestral, talvez a tataravó (ou uma quem sabe, uma outra ancestral) índia legítima e  selvagem, que estaria passando pelas terras do meu talvez e possível tataravô, totalmente despida, com um corpo escultural e ancas bastante largas (dado á este fato, a explicação das mulheres da nossa família, inclusive todas as filhas de José Diógenes terem quadris bastante largos), tinha também uma cabeleira enorme, que cobria parte do seu corpo como um véu. Ela foi vista juntamente com alguns guerreiros da tribo, que estavam rondando as terras do meu tataravô, a procura de algum olho d’água. 

Os antigos índios, ao mapearem a existência de algum lençol d’água, tinham de costume encostar o ouvido no chão. Nesse momento, perceberam o barulho dos cascos de cavalo dos capangas do meu tataravô. Todos fugiram; mas a índia que estava com eles, não conseguiu acompanhá-los. Ao avistá-la, surgiu no meu tataravô um amor à primeira vista. Ele mandou buscá-la e trazê-la, amarrá-la,  amansá-la e casou-se com ela. Deveria ser esta provavelmente, a tal de Maria da Purificação, já que precisava se registrar em cartório com algum nome,  depois que foi amansada, para poder se casar com o meu talvez tataravô. Acredito que ninguém perderia o seu precioso tempo e a troco do quê, inventando esta bela história contada e em detalhes.

A minha bisavó, Teresa Cristina, mãe de Francisco Dantas, era Portuguesa, e o biótipo e fenótipo fisionômicos meus, olhos e pele bem claros, dizia minha mãe, fazem lembrar os dela que herdei dos tanto dos Diógenes, como dos Dantas e dos Alves (do meu avô paterno Sr. Francelino Alves, que tinha os olhos azuis). As nossas ancas largas, pernas bem torneadas, pálpebras baixas, e a dispensável necessidade de depilar pernas e axilas, assim como a grande maioria das demais mulheres da família até a minha geração ou talvez uma ou duas depois da minha (onde ainda temos lídimas Diógenes ou sejam Diógenes da gema), devemos agradecer, tenho a mais pura convicção, á herança genética da nossa antepassada indígena (já que estas são características fenotípicas da raça indígena). No entanto, os Diógenes mais legítimos ainda hoje se destacam pelo tipo físico * fidalgo e arrojado, de fácil distinção, bem característico da família.

Hoje, no entanto, após inúmeras décadas e o surgimento de gerações mais jovens, podemos constatar a existência de descendentes miscigenados com as mais diversas raças, nos mais diversos países e aferir toda beleza e graça destas miscigenações.

É muito bom podermos contribuir para registrar, conferir os fatos, e montar este precioso acervo histórico-cultural brasileiro, através da nossa história.

É plausível esta relevante iniciativa à todos vocês: primos Kennedy Lafaiete Fernandes Diógenes e Licurgo Nunes Quarto; à eficientes historiadores e ensaístas, dentre eles Francisco Honório de Medeiros.
 
*eira e beira - Naquela época, detalhes na cumeeira, caracterizavam o status, a aristocracia e poder econômico das famílias. Quando se referiam a alguém sem origem, dizia-se que era um Zé ninguém, sem eira nem beira.

* fidalgo - Fidalgo, etmologicamente significa filho de algo, de alguém importante.

*Coronel e *Capitão - Eram na época patentes que não tinham nada a ver com o serviço militar; no entanto, eram concedidas à pessoas de famílias tradicionais de alto poder aquisitivo, como uma forma respeitosa.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Genealogia de Domingos Paes Botão a Napoleão Diógenes Paes Botão

Por Kennedy Diógenes

Este artigo é a primeira parte, de três, da Genealogia da Família Diógenes, onde pretende reproduzir os ancestrais nascidos entre os anos de 1686 e 1870 (séculos XVII a XIX), ou seja, do Cap. Domingos Paes Botão até Napoleão Diógenes Paes Botão.

As segunda e terceira partes são, respectivamente, a genealogia dos filhos, netos e bisnetos de Napoleão Diógenes Paes Botão, e, posteriormente, uma série chamada “Biografias”, onde se fará a síntese da vida dos homens e mulheres da Família Diógenes que ajudaram a talhar o caráter e valores familiares.

Registre-se que tal tarefa somente é possível pela cooperação e disposição altruística de primos como Licurgo Nunes Quarto e Márcio Luis Diógenes.

I – A chegada de Domingos Paes Botão no Brasil.

Nos idos de 1686, os ventos do noroeste trouxeram as naus com a Missão dos Homens de São Francisco, denominada assim pelo fato de navegarem neste rio a partir de Pernambuco, e com ela, um jovem oficial oriundo de Botão, Concelho e Distrito de Coimbra, chamado de Domingos Paes Botão.

Da chegada de Domingos (sênior) até os dias atuais (de 1686 a 2010) são 324 anos de história da Família Diógenes, estimando-se em 8 (oito) Gerações, considerando-se até os netos de Napoleão Diógenes Paes Botão e Cristina Fernandes Maia.

É possível, com base nas pesquisas de Augusto Lima e Plínio Diógenes, estabelecer-se uma seqüência lógica de ascendentes que remonta ao Capitão-Mor Domingos Paes Botão (sênior), podendo haver uma ou outra discussão acerca de alguns nomes, como, por exemplo, o do patriarca da família, filho do Cap. Domingos Paes Botão (sênior), que seria Manoel Diógenes Paes Botão, na visão de Augusto Lima, ou simplesmente Diógenes Paes Botão, na visão de Plínio Diógenes.

O fato é que, após a sua chegada ao Brasil, por volta de 1686, o Capitão-Mor Domingos Paes Botão (sênior), juntamente com os irmãos José da Fonseca Ferreira e Antônio da Fonseca Ferreira, requereram uma data de ocupação de 40 léguas no Médio Jaguaribe, estabelecendo-se, Domingos (sênior), na Região de Santa Rosa, atualmente Jaguaribara/CE, o que representou o primeiro grande desafio de colonização desta região sertaneja do Ceará, pois confrontou forte resistência dos índios Tapuias.

Nessa meia-noite da colonização brasileira, os índios aguerridos e em maior número, lançavam-se, em defesa de sua terra, contra os “invasores”, forçando ao Cap. Domingos Paes Botão, após um ataque onde perdeu vários homens de sua tropa (segundo Plínio Diógenes, 11 homens), a mudar-se para o litoral, em Aquiraz/CE, onde requereu uma data de ocupação no lugar denominado Rio mal Cozinhado, atual município de Cascavel/CE, mantendo esta propriedade na mãos da família por várias gerações.

Também é fato que Domingos Paes Botão (sênior), após o deslocamento para o litoral, enveredou-se na Política, onde foi eleito Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Aquiraz, casando-se, nessa mesma época, em Pernambuco, com Sebastiana da Assunção Fonseca Ferreira, irmã de José da Fonseca Ferreira e Antônio da Fonseca Ferreira, sesmeiros e companheiros de Domingos e integrantes da Missão dos Homens de São Francisco, como já explicitado no artigo “O Patriarca da Família Diógenes”.

Depois de vários anos, Domingos Paes Botão e Sebastiana da Assunção resolveram retornar à Região de Santa Rosa, já pacificada, onde tiveram dois filhos “legítimos”, Genoveva Maria da Assunção e Manoel Diógenes Paes Botão, além de uma “filha exposta” (adotava, de criação ou enteada) chamada Isabel Eça.

Supõe-se que Domingos Paes Botão tenha se casado duas vezes, com duas irmãs, Maria e Sebastiana, como era de costume nos casos de viuvez, pois no registro do seu filho mais novo, (Manoel) Diógenes Paes Botão, consta, como mãe, Maria da Fonseca, e não Sebastiana, ou, simplesmente, Maria seria nome composto de Sebastiana (Sebastiana Maria da Assunção Fonseca Ferreira).

Portanto, tem-se, abaixo, uma síntese da árvore genealógica, concentrando-se na linhagem que chegou a Napoleão Diógenes Paes Botão:

II – Genealogia – de Domingos a Napoleão.

Marco inicial: Capitão-Mor Domingos Paes Botão, português natural da freguesia de Botão, Concelho e Distrito de Coimbra, foi casado com Sebastiana e/ou Maria da Assunção Fonseca Ferreira, e tiveram dois filhos: Genoveva da Assunção e Manoel Diógenes Paes Botão e uma “filha exposta”, Isabel Eça.

Os filhos de Domingos Paes Botão (sênior) e Sebastiana da Assunção:

1. Genoveva da Assunção, natural do Rio São Francisco, casou-se, possivelmente, em 1709 (data transmitida oralmente), com o sobrinho de Domingos sênior, Sargento-Mor Manoel Peixoto da Silva Távora, sesmeiro, natural da Freguesia de Távora (Santa Maria), Concelho de Arco de Valdevez, Distrito de Viana do Castelo, Portugal, e tiveram quatro filhas, quais sejam Isabel da Silva Távora, Teresa de Jesus Maria, Maria Francisca Peixota (álibi Maria d´Afonsequa) e Ana Maria de Jesus (álibi Ana Maria Peixota), iniciando a Família Távora.

2. Isabel Eça, filha exposta da qual não se possui, ainda, informações ou documentos que revelem seu destino.

3. (Manoel) Diógenes Paes Botão, Alferes (equivalente ao posto de Segundo-Tenente), político (foi vereador e Presidente da Câmara Municipal de Icó), é o primeiro desta linhagem a receber o nome Diógenes, sendo o patriarca da Família. Nasceu por volta do ano de 1698, e foi batizado na Capela de Gonçalo do Potengi, no Rio Grande do Norte, segundo Certidão de Batismo encontrada nos Livros Eclesiásticos desta Freguesia. Então, casou-se com Antônia da Rocha Tavares, álibi Antônia da Purificação, filha mais velha de Luís Paes Botão, natural do Reino de Angola, e Josefa Ferreira da Rocha Tavares, natural do Icó, e tiveram três filhos, além de uma “filha exposta”, chamada de Luiza de Melo Rocha. Diógenes faleceu em 14.08.1769 na freguesia do Icó, sendo sepultado na Igreja Matriz N.Sª. da Expectação.

Os Filhos de (Manoel) Diógenes Paes Botão e Antônia da Purificação:

3.1. Diogo Diógenes Paes Botão, pelo que registrou Plínio Diógenes Botão (Genealogia das Famílias Távora, Diógenes e Pinheiro), exerceu a função de Juiz de Paz em Icó, tendo emigrado, posteriormente, para Aquiraz/CE, onde ocupou a sesmaria requerida pelo avô (Domingos sênior) no lugar denominado Rio Mal Cozinhado. Não há notícias de casamentos e/ou filhos.

3.2. Luiza de Melo Rocha, filha exposta, álibi Luiza da Rocha Tavares, nascida na freguesia do Icó e casou-se com Manoel da Silva Monteiro, de Pernambuco.

3.3. Capitão Cosme Diógenes Paes Botão: há poucos registros sobre ele. Viveu com Maria dos Prazeres, que a tradição oral diz ser oriunda da família Saldanha. Cosme e Maria tiveram um filho natural, Bernardo da Costa Pereira, que se casou com Joana da Silva em 26.11.1772 (nesta data, Cosme já era falecido). Interessante que a noiva de Bernardo, Joana da Silva, era filha exposta de Luiza de Melo Rocha e Manoel da Silva Monteiro.

3.4. Cel. Domingos Paes Botão (segundo), nascido na freguesia do Icó, Coronel de Cavalaria do Icó/CE, participou de vários conflitos que serão detalhados posteriormente, após a finalização das pesquisas. Casou-se em 23.09.1778 com Teresa de Jesus Maria, egressa de Pernambuco e sua prima legítima, filha de sua tia paterna homônima, Teresa de Jesus Maria, casada com o Licenciado Miguel da Silva, este da família Saldanha. Durante o seu matrimônio com a prima, Cel. Domingos Paes Botão (segundo) manteve um concubinato com uma índia do Ceará, possivelmente da tribo Tapuia, chamada Narcisa Dias, com quem teve um filho natural chamado de Quirino de Oliveira. Chama a atenção, Augusto Lima, que, possivelmente, seja este relacionamento de Domingos com uma índia que tenha originado a lenda da Índia Antônia da Purificação, uma vez que a tradição oral tenta melhorar a imagem familiar, pois, naquela época, havia mais status em se casar com índia do que com mulata, filha de escravo alforriado.

Os filhos de Domingos Paes Botão (segundo) e Teresa de Jesus Maria:

3.4.1. Damião Diógenes Paes Botão: não há registros sobre ele.

3.4.2. Maria Paes Botão casou-se com Manoel Antônio Pinheiro, o Manoel das Maretas, irmão de Francisca Maria das Chagas de Jesus, esposa de Domingos Paes Botão Junior (terceiro).

3.4.3. Cosme Diógenes Paes Botão Sobrinho: não há registros sobre ele.

3.4.4. Antônio Paes Botão: o único registro é de seu nascimento, em 16.02.1779..

3.4.5. Capitão Domingos Paes Botão Júnior (terceiro) casou-se com Francisca Maria das Chagas de Jesus, filha de Manoel Pinheiro Landim e de Rita Francisca da Conceição. Domingos (terceiro), logo, era cunhado duplamente de Manoel Antônio Pinheiro, este apelidado de Manoel Antônio das Maretas, pois este, além de ser irmão da mulher de Domingos, também era casado com sua irmã, Maria Paes Botão.

Os filhos de Domingos Paes Botão Júnior (terceiro) e Fca. Maria das Chagas de Jesus:

3.4.5.1. Antônio Paes Botão (sobrinho): a única informação é que morreu solteiro (inupto) em Poço dos Dantas, no Estado de Pernambuco.

3.4.5.2. Joaquim Supriano Paes Botão, a única informação sobre Joaquim é que se casou três vezes no Apodi/RN, deixando grande prole naquela região.

3.4.5.3. Manoel Diógenes Paes Botão, que casou com Joaquina da Silva Saldanha, filha de Domingos da Silva Saldanha e Maria Rosa Cândida de Miranda. Não há registros acerca da vida de Manoel Diógenes.

Os filhos de Manoel Diógenes Paes Botão e Joaquina Saldanha:

3.4.5.3.1. José Osório Paes Botão, casado c/ Carminda Rosa Botão, com 8 filhos;

3.4.5.3.2. Vasco Diógenes Botão, casado c/ Bela Rosa Botão, com 4 filhos;

3.4.5.3.3. Ovídio Diógenes Paes Botão, inupto;

3.4.5.3.4. Deodato Diógenes Paes Botão, casado c/ Santana Rosa Botão, com 9 filhos;

3.4.5.3.5. Idalina Rosa Botão, casada c/ Clementino Rodrigues Pinheiro, com 7 filhos;

3.4.5.3.6. Liberata Rosa Botão, casada c/ Cândido Rodrigues Pinheiro, com 6 filhos;

3.4.5.3.7. Francisca Rosa Botão, casada c/ Luis Cornélio Paes Botão, com 5 filhos;

3.4.5.3.8. Josina Rosa Botão, casada c/ Apolitano Diógenes Paes Botão, c/ 12 filhos;

3.4.5.3.9. Marota Rosa Botão, casada c/ Francisco Carlos da Silva Saldanha, c/ 5 filhos;

3.4.5.3.10. José Diógenes Paes Botão, casado c/ Cosma Rosa Botão, esta filha de Domingos da Silva Saldanha e Maria Rosa Cândida de Miranda, com 6 filhos;

3.4.5.3.11. Napoleão Diógenes Paes Botão, casado c/ Cristina Fernandes Maia, esta filha de Diogo Alves Fernandes Maia e Carolina Gomes da Silveira (Mãe Calola), tronco comum da Família Maia.

Fontes:

LIMA, Francisco Augusto de Araújo. Famílias Cearenses 7 – IPUEIRAS dos TARGINOS, Ed. Artes Digitais, Ceará/2006.

BOTÃO, Plínio Diógenes. Genealogia das Famílias Távora, Diógenes, Pinheiro. Ed. OTS Gráfica. Ceará/2000.

domingo, 21 de março de 2010

Foto de Família - Lafaiete Diógenes Maia

Nesta foto, no centro, Lafaiete Diógenes Maia, filho de Napoleão Diógenes Paes Botão e Cristina Fernandes Maia, e seus dois filhos, à esquerda Pedro Diógenes Fernandes, e à direita, Luis Gonzaga Diógenes.

Foto de Família - Década de 1950.

Por Licurgo Nunes Quarto

Figuram, na foto acima, os seguintes parentes, da esquerda para a direita:

Na 1ª Fila: Aldair Diógenes Fernandes (Tio Dadá), Cristina Diógenes Nunes, Maria Alzir Diógenes (Tia Zizí), Maria Da Conceição Diógenes Nunes (a criança ao Lado de Mª Alzir), e Licurgo Nunes Terceiro;

Na 2ª Fila: Licurgo Nunes Júnior, Francisco Sebastião Diógenes (Seu Chiquinho), Maria Cristina Diógenes Nunes, Alzira Fernandes Diógenes (Vovó Alzira), Maria Elisa Fernandes (Mãeinha, mãe de Alzira Fernandes Diógenes) e Lafayete Diógenes Neto (Diosneto).

Na 3ª Fila: Licurgo Nunes Quarto e Severina Chaves Filha (Ceci), que, depois de casada, adotou o nome de Severina Chaves Diógenes Macêdo.

A propósito de Mãeinha, segue o texto abaixo, também de Licurgo Nunes Quarto.


MÃEINHA


MARIA ELISA FERNANDES, conhecida por “Mãeinha”, filha mais velha de Rufino Martins Ribeiro (31/07/1855 – 26/O7/1945) e de Joana Evangelista Fernandes Maia – Mãe Joaninha - (1856 – 07/07/1938).

Nasceu a 09 de julho de 1877, na Fazenda Maniçoba, pertencente aos seus pais, localizada no Município de Marcelino Vieira – RN, e faleceu em Natal, Capital do Estado do Rio Grande do Norte, a 28 de dezembro de 1964, com 87 anos de idade.

“Maria, a filha mais velha, Professora diplomada na Escola de latim fundada pelo Professor Gervásio Fernandes Bonavides, em Martins, conhecia bem a letra do legendário Tio Childerico...” ( Calazans Fernandes, em “O Guerreiro do Yaco, págs. 36 a 37 ).

Casou-se com Pedro Antonio Lopes, que era filho de Antonio Lopes da Serrinha e Hercolana Maria Lopes de Jesus.

Com pouco tempo de casados, Pedro Lopes deixa a mulher, Elisa, e a filha única, Alzira, recém-nascida, em Pau dos Ferros e segue para a Amazônia em busca de novos horizontes - trabalhar no seringal; na extração do látex extraído da seringueira, fonte para a produção da borracha natural – e à época a produção de borracha na Amazônia se vislumbrava como o novo eldorado, para onde muitos nordestinos se dirigiram em busca de novas perspectivas de vida.

Como a medicina ainda era exercida de maneira muito embrionária, associada às condições inóspitas da região, houve o aparecimento de várias doenças – como a malária – que matou inúmeras pessoas que por lá trabalhavam. E Pedro Lopes foi uma dessas vítimas.

“O povo tem razão em propalar as faculdades premonitórias de meu pai Rufino. Ele vê onde outros não vêm nada. No mesmo dia, mês e ano que Pedro Lopes, marido da filha Mãeinha, minha irmã mais velha, residente em Pau dos Ferros, acabava de falecer no seringal da Amazônia, um vulto apareceu ao meu pai no canavial da Maniçoba, para dar ciência da própria morte, ocorrida às 6 horas daquele pôr-do-sol, e pedir que informasse imediatamente à família. Meu pai fez como a aparição pediu. Somente um mês depois chegou a comunicação formal da morte do genro...” ( Calazans Fernandes, em O Guerreiro do Yaco, págs. 187 a 188 ).

Com a infausta noticia da morte do marido, Maria Elisa voltou a morar, com a filha menor, Alzira, na Fazenda Maniçoba na companhia dos seus pais Rufino/Joana e demais irmãos. Alzira, então, passou a conviver com a mãe, os avós, tios e tias.

Quando Mãeinha e Alzira chegaram na Fazenda Maniçoba, e com o desenvolver da criança, esta chamava a mãe Elisa de mãe, bem como se referia à avó Joana também de mãe, pois esse era o tratamento que ela ouvia quando as tias chamavam a mãe.

Estabeleceu-se então um acordo – por sugestão da avó Joana – de que, quando Alzira se referisse a Elisa, a chamaria de Mãeinha, e, por sua vez, quando falasse com a avó Joana, a trataria de Mãe Joaninha. Surgiram, daí, os termos “Mãeinha” e “Mãe Joaninha” que todos os descendentes tão bem conhecem.

Conviveram na citada fazenda até o dia 28 de novembro de 1914, quando, em grande festa na casa grande da Maniçoba, Alzira, com 16 anos de idade (nascida a 19 de novembro de 1898), casou-se com Lafayete Diógenes Maia, com 20 anos de idade, pois nasceu a 02 de setembro de 1894.

Transcrição “ipsis litteris” do Registro de Casamento Civil, livro II, fls. Nº 146v a 147 do Cartório de Registro Civil da Comarca de Pau dos Ferros – RN:

“Termo de Casamento. Aos vinte e oito dias do mês de Novembro de mil novecentos e quatorze, neste Sitio Manoçoba, districto Judiciário de Pau dos Ferros, na caza de residência do Capitão Rufino Martins Ribeiro, onde se achava o primeiro Juiz Districtal Francisco Rodrigues da Silva, por impedimento do Doutor Juiz de Direito da Comarca, ahi prezentes, o mesmo Juiz comigo Official effectivo e as testemunhas Domingos Diógenes e Ildebrando Diógenes Maia, a meia hora da tarde receberam-se em matrimônio LAFAYETE DIOGENES MAIS, filho legíptimo de Napoleão Diógenes Paz Botão e Chistina Fernandes Maia já falecida, solteiro, creador, com vinte annos de idade, e ALZIRA FERNANDES DA SILVA, filha legíptima de Pedro Antonio da Silva, já falecido, e de Maria Elisa Fernandes, solteira, com dezesseis annos de idade. Em firmeza do que eu, Francisco Rodrigues Fernandes, lavrei este acto que vai por todos assignados. (aa) Francisco Rodrigues da Silva, Lafayete Diógenes Maia, Alzira Fernandes da Silva, Domingos Diógenes de Carvalho, com 31 annos, casado rezidente neste município, Ildebrando Diógenes Maia, com 30 annos, creador residente Coito do Estado do Ceará”.

O Casal recém-formado foi residir na fazenda Melancia, localizada no Ceará e pertencente ao noivo Lafayete.

No dia seguinte à chegada na Fazenda Melancia, e ao constatar que Alzira não tinha a menor aptidão para as lides domésticas, sobretudo culinária, Lafayete, aproveitando a equipe de moradores e animais de Rufino que havia ido deixá-los na Melancia, e que ainda permanecia lá, mandou que voltassem à Fazenda Maniçoba, levando uma carta sua para o Rufino, avô de Alzira, onde relatava a necessidade de Maria Elisa ir morar com eles na Melancia, a fim de ensinar a Alzira as tarefas inerentes a uma dona de casa.

E assim foi feito. Maria Elisa foi para a fazenda do genro, e passou o resto da sua vida na companhia da filha, até que faleceu, em Natal, a 28 de dezembro de 1964, com 87 anos de idade.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Certidão de Batismo do Primeiro Diógenes no Brasil

Por Kennedy Diógenes

Já havia postado no blog anterior esse texto, referindo-se a um e-mail que recebi do Prof. João Felipe Trindade, meu concunhado, que é pesquisador e membro do recém criado Instituto de Genealogia do Rio Grande do Norte, tendo, como fonte, Francisco Augusto de Araújo Lima, escritor e pesquisador cearense.

No entanto, por condições técnicas, não havia conseguido incluir a fotografia do texto original do batistério, conforme postado acima, consignado em um livro eclesiástico da Arquidiocese de Natal.

Segue a transcrição da Certidão:

“Em 20 de abril de 1698 em a Capela de Sam Gonçalo do Potigi de licença minha baptizou o Padre Francisco Bezerra de Gois a Deogenes filho legitimo de Domingos Paes Botão e de sua mulher Maria da Fonseca; forão Padrinhos o Capitam João da Fonseca e Bernada da Fonseca filha da viúva Isabel Ferreira. Simão Roiz (Rodrigues) de Saa”

Interessante observar que João da Fonseca Ferreira e Domingos Paes Botão eram cunhados (a irmã de João da Fonseca era a esposa de Domingos) e ambos fundaram o município de Cascavel/CE, de acordo com o site do Estado do Ceará (http://www.ceara.com.br/m/cascavel/).

Como preconiza Augusto Lima, este é, provavelmente, primeiro Diógenes nascido em terras tupiniquins, "que deu origem à numerosa e ilustre família DIÓGENES na ribeira do Jaguaribe".

* Fonte: Prof. Francisco Augusto de Araújo Lima, pesquisador e escritor, membro do Instituto Histórico do Ceará.

Nota de Falecimento de José Ildemar Diógenes Bezerra

Por Licurgo Nunes Quarto

Faleceu, na madrugada do dia 16 de março de 2010, e foi sepultado às 17:00 horas do mesmo dia, no Cemitério Morada da Paz, em Emaús, o nosso primo JOSÉ ILDEMAR DIÓGENES BEZERRA, conhecido por DIDI.

JOSÉ ILDEMAR DIÓGENES BEZERRA era filho de Pergentino Bezerra e de Cristina Diógenes Bezerra; Neto – pelo lado materno – de José Diógenes Maia e Teresa Dantas Diógenes; bisneto de Napoleão Paz Botão Diógenes e de Cristina Diógenes Fernandes Maia. Tereza Dantas Diógenes era filha de Francisco Dantas de Araujo (grande agropecuarista e político da Região Oeste, que deu nome à Cidade de Francisco Dantas) e de Josefa Dantas de Araujo (Dona Zefinha).

Formado em Química pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e Funcionário aposentado do Banco do Nordeste, Didi Diógenes deixou quatro filhos e um legado de honestidade, de simplicidade e de firmeza de caráter.

Tímido por excelência, mas de um jeito todo especial de tratar as pessoas, Didi fez da cordialidade uma constante no relacionamento com os amigos e parentes.

A missa de 7º dia ocorrerá no próximo dia 22, segunda feira, às 19 horas, na Igreja de São Camilo de Léllis, localizada à rua Pureza, s/n, Bairro de Lagoa Nova.

Curiosidade genealógica: Didi Diógenes era filho de Cristina Diógenes Bezerra, e neto materno do casal José Diógenes Maia e Tereza Dantas Diógenes, o qual teve uma prole de nove filhas, a saber:

1 – FRANCISCA DIÓGENES PAIVA (FRANSQUINHA) - Casada com Joaquim Paiva.
2 – CRISTINA DIÓGENES BEZERRA – Casada com Pergentino Bezerra.
3 – MARIA ADELVISE DANTAS DIÓGENES GRANJEIRO – Casada com Natanael Alves Granjeiro.
4 – ROCILDA DIÓGENES BARBOSA – Casada Alberto Miranda Barbosa
5 – ERCÍLIA DIÓGENES GARCIA (CILÔ) – Casada com José Garcia de Moraes.
6 – DEZUITE DANTAS DIÓGENES – Casada com Paulo Pessoa Diógenes
7 – EZILDA DIÓGENES ARAÚJO (DODOCA) – Casada com Edval Nunes de Araújo.
8 – MARIA GIZELDA DANTAS DIÓGENES FREITAS (XANANA) – Casada com Rosálio Freitas Nobre
9 – MARIA DIOSNECÍ DANTAS DIÓGENES.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Quatro Gerações de Mulheres Diógenes

Por Licurgo Nunes Quarto

Essa foto foi feita em 1970, onde estão, da esquerda para a direita, Alzira Fernandes Diógenes, com 72 anos; Cristina Diógenes Nunes, com 48 anos; Maria Cristina Diógenes Nunes Marcelino, com 25 anos; e Alaíde Cristina Diógenes Nunes Marcelino, com 05 anos.

Lafayete Diógenes Maia na Fazenda Melancia

Por Licurgo Nunes Quarto

Caríssimos parentes, esta foto, além de histórica, nos é muito significativa e de um valor estimativo enorme,
principalmente para os das décadas de 40, 50 e 60 (pois os nascidos
nestas épocas conviverem na Fazenda dos avós
Lafayete/Alzira). Ela retrata o nosso Avô Lafayete na "quina", no "canto" da calçada da casa grande da Fazenda Melancia, observando o gado saindo do curral, passando no terreiro - no pátio da casa grande – indo pastar na manga.

Fazenda Melancia que Lafayete tanto gostava e que, depois do seu falecimento, passou a ser administrada por nossa Avó Alzira. E aí como era gostoso passar férias na Fazenda da Avó. Como ela, coadjuvada por Maria Elisa Fernandes, nossa Bisavó, carinhosamente chamada por "Mãeinha”, tratavam bem os netos que por lá aportavam. O queijo de manteiga, feito por Mãeinha – um verdadeiro “manjar dos deuses” – ainda guardo o sabor – inigualável - e de uma palatabilidade nunca mais percebida.

A Melancia, para os menos informados, não só é uma das maiores propriedades do Alto Oeste Potiguar, como é uma das melhores, tanto para o cultivo da agricultura, como para a pecuária, pois a sua topografia, o seu relevo – constituído por terras baixas, úmidas, e altiplanos, favorece à prática da criação de bovinos, ovinos e caprinos, bem como ao cultivo de quase todas culturas agrícolas, como arroz, feijão, milho e algodão (quando ainda não existia o “bicudo”, praga que dizimou essa cultura). Com muitos "baixios", é excelente para o plantio de cana de açúcar, e, conseqüentemente, a fabricação de mel de engenho, rapadura, alfenim e batida (a qualidade da rapadura nela produzida é sem igual, e ainda hoje serve de parâmetro para as demais produzidas nas diversas fazendas existente no oeste do Estado. A rapadura produzida na Melancia, dizia minha Mãe Cristina, é "doce como mel de abelha, e amarela como bronze").

Se atentarem bem para a foto, hão de perceber uma "varanda" de madeira, com tábuas entalhadas, na vertical, uma ao lado da outra. Era "um para-peito", que delimitava – que separava - o alpendre da calçada. A referida varanda foi feita pelo mestre Casciano Vidal, que era cunhado de "Mãeinha", pois era casado com Maria Fernandes Vidal, tia "Maroca". O mestre Casciano, além de construir a casa grande da Fazenda, e a sua respectiva varanda, edificou o prédio do engenho de rapadura, tendo inclusive montado o próprio engenho (o maquinário), importado da Inglaterra. Ele também era excelente "mestre de rapadura", e, como tal, foi responsável por "tirar" (por fabricar) a referida safra por alguns anos.

A proximidade da Fazenda à Cidade de Pau dos Ferros, facilitava o escoamento dos produtos por ela produzidos, tanto é que, diariamente, e cedinho, saía uma carroça, tangida por Rubens (morador da Fazenda) com destino à urbe, levando o leite, o queijo, a carne de criação e qualquer outro insumo por lá produzido e que estivesse sobrando do consumo interno.
Segundo Lafayete Diógenes, a melancia só tinha um defeito, qual seja o de ficar localizada ao poente em relação a Pau dos Ferros, pois, quando ele vinha cedo da Melancia para Pau dos Ferros, a cavalo, encarava o sol bem de frente, e, quando voltava a tarde, “pegava” novamente o sol à sua frente. E ele, por ser branco, avermelhado, sofria muito, "queimava" muito a pele.