domingo, 9 de maio de 2010

Histórias de José Diógenes Maia e sua família

Por Fábia Diógenes* 

Espontaneidade , generosidade  e  alegria eram as características mais marcantes do meu avô, Cel. José Diógenes Maia, segundo minha mãe, Maria Adelvise Dantas (in memorian), a terceira filha mais velha do seu primeiro casamento. Acredito que até hoje estas mesmas virtudes se caracterizaram como uma herança genética extensiva a todos os descendentes da família Diógenes.

José Diógenes Maia, mais conhecido pela alcunha de *Coronel Zé Diógenes, era filho do *Capitão Napoleão Diógenes Paes Botão e Cristina Fernandes Maia. Tinha estatura mediana e pele clara avermelhada. Quando jovem, começou seus estudos no intuito de cursar Medicina, depois desistiu e entrou para o Colégio Salesiano, destinado a ingressar no Seminário de Padres, quando aprendeu a falar o Latim. Como era muito festeiro, certa vez descobriram que fugira para dançar em bailes, sendo por este motivo expulso.


Foi político (nomeado), embora nunca tenha exercido o mandato, segundo minha mãe e algumas tias, provavelmente Deputado. E eu pude confirmar o fundamento desta história, ao ler partes destacadas do texto abaixo transcrito na íntegra da Wikipédia do Google: 

"Executivo municipal. Outrora Jaguaribe não dispunha de eleições para prefeitos. Eles eram nomeados por aqueles possuidores de maior poder econômico. Os primeiros partidos existentes foram UDN, que tinha como um dos principais membros, o Celso Barreira Filho, e o PSD, composto pela família Diógenes. Ambos eram compostos por famílias poderosas da região.  Em 1965, foram abolidos os velhos partidos e surgiram dois novos. Arena e o MDB, criados pelo Marechal Castelo Branco. A Arena era formada pelas classes dominantes, fazendeiros e grandes comerciantes. Já o MDB, era formado por um pequeno número de militantes com  ideologia, mas sem poder econômico para barganhar os votos e vencer uma eleição".

Cel. Zé Diógenes se desinteressou pela política, muito provavelmente por ser proveniente de família abastarda, além de ter muitas responsabilidades, já que era proprietário de vinte e sete (27) propriedades (depois do inventário de sua morte, as propriedade foram distribuídas, sendo três para cada uma das suas nove filhas do seu primeiro casamento com Teresa Dantas de Araújo).

As suas primeiras núpcias foi com Teresa Dantas de Araújo, passando esta a se chamar Teresa Dantas Diógenes, filha de Francisco Dantas, que era político e proprietário das terras onde surgiu a cidade no Oeste Potiguar, que tem hoje o seu nome. Teresa tinha, como irmã, Idezite, esposa do Dr. Cleodon Carlos de Andrade e Elvira, avó do Deputado Clóvis Motta.

Eram, José Diógenes e Teresa, os antigos proprietários e moradores da casa grande de trinta e oito (38) cômodos construída no final do Século XVIII (herdada do seu pai, Napoleão Diógenes), que ainda hoje ostenta a aristocracia da família a conferir-se pelo detalhe na cumeeira onde se pode ver *eira e beira; localizada na Fazenda Trigueiro, no Município de Pereiro, Ceará/Brasil. 

Deste casamento com Teresa, conhecida pela alcunha de Dôna Têca ou Têca Dantas, tiveram as filhas: Francisca (Ciquinha), Cristina (Titiu), Maria Adelvise (Vizinha), Rocilda (Dodô), Ercília (Cilô), Dezuite, Ezilda (Dodoca), Maria Gizelda (Xanana), Maria Diosneci (Cizinha). Eram consideradas pela sociedade como belas moças, bem feitas de corpo, que se trajavam muito bem (Adelvise, usava chapéus, trusses de prata, jóias etc ) e segundo o costume da época,  frisavam (faziam permanente) e usavam bananas (tipo de penteado) nos cabelos; de boa conduta, finas, educadas e bastante prendadas. Sabiam: cozinhar, bordar, costurar; inclusive a minha mãe aprendeu a costurar tubinhos para as criadas aos dez anos de idade, escondido da mãe. Como conheciam normas de etiqueta social, eram solicitadas para receberem as autoridades nas cerimônias dos bailes da Prefeitura de Pau dos Ferros.

Foi num desses bailes que minha mãe, Maria Aldevise, filha do Cel. Zé Diógenes, conheceu meu pai, Natanael Alves Grangeiro. Bonito e alto, apesar de muito sério, encantava toda a moçada. Na ocasião, entrou no baile, vestindo um elegante terno de linho branco escocês e sapatos pampa (de duas cores, que era fashion naquela época). Do amor á primeira vista e posteriormente confirmado o seu caráter e personalidade por todos que o conheciam, como um comerciante próspero (que negociava cavalos e algodão), honesto, bom filho, equilibrado e sem vícios, namoraram, noivaram e se casaram dentro de três meses; sendo Natanael, naquela época, um dos fundadores do Clube Centenário Pau-Ferrense e da Sede do Lions Club em Pau-dos-Ferros. Foram felizes até que Adelvise desencarnou em dezembro de 1994, vítima de enfarte. 

Dessa união, Natanael e Aldevise tiveram os filhos: Idalécio, José Ivanécio, Maria de Fátima que se formaram todos três em Medicina e a caçula temporã, Fábia Maria que se formou em Odontologia. Residiram na Avenida Getúlio Vargas, em Pau dos Ferros até se transferirem definitivamente para Natal. Natanael ainda hoje permanece vivo e saudável, com os seus 88 anos.

Espirituoso e brincalhão, o Coronel Zé Diógenes sugeriu que as filhas dominassem, cada uma delas, pelo menos um ou dois instrumentos musicais para tocar, até que ele adormecesse. Por causa disso, minha mãe aprendeu sozinha, sem mestre, a tocar cavaquinho aos dez anos de idade e com o tempo, banjo, e violão (que dominava totalmente); solando neste qualquer música só de ouvido. Muito alegre e espontâneo, era comum ás filhas de José Diógenes vê-lo brincar e dizer coisas engraçadas.

A casa grande era conhecida pelas apoteóticas festas promovidas por José Diógenes Maia, festas estas que duravam três dias com três noites sem parar. Matavam-se muitos bois, carneiros e aves e se contratavam duas bandas de músicas que se reversavam sem parar. Espirituoso, José Diógenes gostava de tomar uns drinks socialmente, apenas para ficar mais alegre, puxando fogo, como dizia. E num dia desses em que estava puxando fogo, foi até a cidade, entrou numa sapataria e mandou o vendedor colocar todos os pares de sapatos femininos que viu, em dois caçoares e os levou até a casa grande para distribuir com as filhas. O problema é que nesta pressa do vendedor e para a surpresa das filhas, nem todos os pares estavam completos.

As moças andavam de charrete, havia na fazenda campo de voleyball, e muito posteriormente, uma lambreta. O primeiro carro que subiu a serra de Pereiro na época (com uma buzina bastante estridente), foi de José Diógenes, causando espanto de toda a população da região; que nunca haviam visto coisa parecida.

Diziam que o Capitão Napoleão era um homem rígido, muito poderoso e rico. Como naquele tempo não haviam Agências Bancárias, ele chegava a encher caçoás e transportar suas moedas esterlinas de ouro. José Diógenes, bem menos rígido que o pai, muito maleável, tratava bem a criadagem enorme (contava minha mãe que tinha criada até para lavar os seus pés) e era muitas vezes bastante generoso, pois sempre que andava a cavalo e encontrava filhos de escravos foragidos feridos, conduzia-os dentro de caçoás, até a casa grande para que fossem tratadas as suas chagas, quando davam-lhes de comer e beber até que se recuperassem e pudessem seguir os seus caminhos. Minha mãe, ainda meninota, cuidou de alguns desses e até em certas ocasiões, fazia as vezes de enfermeira, trocando os curativos e encanava-lhes os braços. Também era amigável aos ciganos que apareciam em suas terras. Espirituoso e sagaz, quando estava de bolsos bem cheios, costumava se arrumar para ir á cidade, com a roupa mais velha e simples, bem despojado (para disfarçar); quando estava de bolsos vazios, vestia o melhor terno, se penteava e perfumava (para levantar o astral).

Houve uma época difícil para a família Diógenes na casa grande quando o o Cel. Zé Diógenes, a sua esposa, as nove filhas e a criadagem toda, tiveram de abandonar a casa, e se refugiar dentro das matas, aterrorizados com medo do Cangaceiro Lampião e seu bando.

Há um fato interessante sobre a botija da casa grande. Antigamente, como não existia TV, nem DVD, as famílias e alguns criados, ao terminarem de jantar, costumavam ir para a calçada da casa para conversar, ouvir estórias de trancoso, etc. Numa noite dessas, José Diógenes displicentemente comentou que sonhara na noite anterior com alguém te indicando um local na calçada, a contar de tantos em tantos tijolos (enormes), onde estaria enterrada um botija de moedas esterlinas de ouro. Ao amanhecer o dia, Dona Têca, sua esposa, mandou um molecote chamar o responsável pela ordenha das vacas. O menino apareceu correndo e bastante assustado, com olhos bem arregalados e avisou que todos daquela casa fugiram sem deixar vestígios. 

Posteriormente, o vovô percebeu uma concavidade de forma circunferencial na calçada, como se ali existisse algo como uma enorme panela de barro, exatamente no local aonde ele sonhou existir uma botija. Com o passar do tempo, soube-se que o criado que fazia a ordenha estava próspero e até teria montado uma joalheria em Fortaleza. Muito tempo depois, minha mãe sonhou com a existência de uma outra botija no sótão; só que quando escavaram, encontraram apenas ossos de recém-nascidos, que supunham-se ser de filhos de criadas quando abortavam já que era neste sótão, que as escravas pariam.

O Coronel Zé Diógenes enviuvou quando sua esposa Teresa, apenas com 43 anos, veio a falecer de câncer de útero. Tempos depois, casou-se com Delcide e teve com esta os cinco (5) filhos: José Dênis, Napoleão (falecido), outro conhecido como Sisiu (que casou-se e foi morar em Fortaleza) e mais outros dois outros filhos. A sua morte se deu por causa de um traumatismo (causado por um ossículo de ave) na língua, ocasionando um ferimento que exacerbou-se e cancerizou por ter sido um fumante. Após a sua morte e inventário, as suas terras foram distribuídas entre suas nove filhas, herdando cada uma delas três fazendas. A casa grande, passou a ser habitada por Delcide e os filhos deste segundo casamento. Depois de viúva, Delcide veio a se casar com o Sr. Manoel e não sei se desta união ainda tiveram filhos.


Quanto á possibilidade da existência de alguma miscigenação: hoje, muitos historiadores e ensaístas tem procurado encontrar alguma remota possibilidade de miscigenação ascendente na nossa família, existindo duas hipóteses: a de existência de uma ancestral indígena e a outra, de que esta mesma ancestral não era índia e sim mestiça. No entanto, eu, particularmente, não vejo a menor possibilidade da veracidade da segunda suposição, porque cresci ouvindo da minha falecida mãe e algumas tias, da total inexistência de miscigenação negra ou parda ascendente, da minha geração para trás; e até porque não há provas concretas, apenas uma suposição de alguém. 

Também era comum casamentos dentre os membros da mesmas famílias, ou somente entre as famílias mais tradicionais. Temos, inclusive na nossa família, diversos casamentos entre primos consangüíneos, como é o caso da minha tia Dezuite Diógenes, que casou-se com o primo legítimo e  Ex-Deputado Estadual, Ex-Secretário de Finanças e Ex-Prefeito de Pau dos Ferros, Paulo Diógenes; Maria das Graças Diógenes conhecida como Dadaça, filha de Agábio Diógenes, irmão de Paulo, que casou-se com o primo Sebastião Diógenes; Petinha Diógenes,  irmã de Paulo Diógenes que casou-se com o primo Mardônio Diógenes entre tantos outros casos.

O que eu sempre soube, desde criança, é que possuía como ancestral, talvez a tataravó (ou uma quem sabe, uma outra ancestral) índia legítima e  selvagem, que estaria passando pelas terras do meu talvez e possível tataravô, totalmente despida, com um corpo escultural e ancas bastante largas (dado á este fato, a explicação das mulheres da nossa família, inclusive todas as filhas de José Diógenes terem quadris bastante largos), tinha também uma cabeleira enorme, que cobria parte do seu corpo como um véu. Ela foi vista juntamente com alguns guerreiros da tribo, que estavam rondando as terras do meu tataravô, a procura de algum olho d’água. 

Os antigos índios, ao mapearem a existência de algum lençol d’água, tinham de costume encostar o ouvido no chão. Nesse momento, perceberam o barulho dos cascos de cavalo dos capangas do meu tataravô. Todos fugiram; mas a índia que estava com eles, não conseguiu acompanhá-los. Ao avistá-la, surgiu no meu tataravô um amor à primeira vista. Ele mandou buscá-la e trazê-la, amarrá-la,  amansá-la e casou-se com ela. Deveria ser esta provavelmente, a tal de Maria da Purificação, já que precisava se registrar em cartório com algum nome,  depois que foi amansada, para poder se casar com o meu talvez tataravô. Acredito que ninguém perderia o seu precioso tempo e a troco do quê, inventando esta bela história contada e em detalhes.

A minha bisavó, Teresa Cristina, mãe de Francisco Dantas, era Portuguesa, e o biótipo e fenótipo fisionômicos meus, olhos e pele bem claros, dizia minha mãe, fazem lembrar os dela que herdei dos tanto dos Diógenes, como dos Dantas e dos Alves (do meu avô paterno Sr. Francelino Alves, que tinha os olhos azuis). As nossas ancas largas, pernas bem torneadas, pálpebras baixas, e a dispensável necessidade de depilar pernas e axilas, assim como a grande maioria das demais mulheres da família até a minha geração ou talvez uma ou duas depois da minha (onde ainda temos lídimas Diógenes ou sejam Diógenes da gema), devemos agradecer, tenho a mais pura convicção, á herança genética da nossa antepassada indígena (já que estas são características fenotípicas da raça indígena). No entanto, os Diógenes mais legítimos ainda hoje se destacam pelo tipo físico * fidalgo e arrojado, de fácil distinção, bem característico da família.

Hoje, no entanto, após inúmeras décadas e o surgimento de gerações mais jovens, podemos constatar a existência de descendentes miscigenados com as mais diversas raças, nos mais diversos países e aferir toda beleza e graça destas miscigenações.

É muito bom podermos contribuir para registrar, conferir os fatos, e montar este precioso acervo histórico-cultural brasileiro, através da nossa história.

É plausível esta relevante iniciativa à todos vocês: primos Kennedy Lafaiete Fernandes Diógenes e Licurgo Nunes Quarto; à eficientes historiadores e ensaístas, dentre eles Francisco Honório de Medeiros.
 
*eira e beira - Naquela época, detalhes na cumeeira, caracterizavam o status, a aristocracia e poder econômico das famílias. Quando se referiam a alguém sem origem, dizia-se que era um Zé ninguém, sem eira nem beira.

* fidalgo - Fidalgo, etmologicamente significa filho de algo, de alguém importante.

*Coronel e *Capitão - Eram na época patentes que não tinham nada a ver com o serviço militar; no entanto, eram concedidas à pessoas de famílias tradicionais de alto poder aquisitivo, como uma forma respeitosa.

6 comentários:

  1. "As nossas ancas largas, pernas bem torneadas, pálpebras baixas, e a dispensável necessidade de depilar pernas e axilas, assim como a grande maioria das demais mulheres da família até a minha geração ou talvez uma ou duas depois da minha (onde ainda temos lídimas Diógenes ou sejam Diógenes da gema), devemos agradecer..."

    Bem caracterizado... rsrsrs
    Parabéns pelo belo texto!

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  2. ate que era bonito com vestido longo queria eu vesrir essas roupas

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  3. Prezada Fábia Diógenes, eu sou uma das netas de José Diógenes Maia, filha de seu segundo filho com Delcides Vieira (José Demes Diógenes, o qual apelidaram de Ciciu). Eu terminei meu doutorado em Engenharia de Transportes e atualmente moro nos Estados Unidos. Gostaria de saber se você teria mais fotos de meu avô e que pudesse disponibilizar, pois nós não temos muitas fotos dele. Eu tenho certeza de que meu pai e tios lhe seriam muito gratos. Obrigada. Mara Diógenes

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  4. olá!
    será que existem duas familias Diógenes??

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  5. Adorei o texto foi a primeira coisa sobre os Diógenes que encontrei na net!!!Parabéns!!!Me chamo Carla Marjorie Diógenes, sou neta de Ezilda Diógenes(Dodoca) e quando criança já fui ao trigueiro...

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  6. LILIA
    Muito linda a sua historia, amei

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