domingo, 25 de julho de 2010

Os Domingos da Família Diógenes

Por Kennedy Diógenes

Domingos Paes Botão, Capitão-Mor português que aportou por estas plagas em 1686, na Missão dos Homens de São Francisco, e originou várias famílias importantes do Nordeste Brasileiro, sempre teve deferência especial dos seus descendentes, quando, na pia batismal, davam seu nome aos filhos recém nascidos, em justa homenagem.

Como já abordado no artigo “Genealogia de Domingos Paes Botão a Napoleão Diógenes Paes Botão”, o primeiro Domingos Paes Botão (Sênior), era oriundo de Botão, Concelho e Distrito de Coimbra, e, juntamente com os seus cunhados José da Fonseca Ferreira e Antônio da Fonseca Ferreira, estabeleceram-se na Região de Santa Rosa, atualmente Jaguaribara/CE, o que representou o primeiro grande desafio de colonização desta região sertaneja do Ceará, pois confrontou forte resistência dos índios Tapuias, fazendo-o se transferir para o litoral, em Aquiraz/CE, onde se enveredou na Política (foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal).

O segundo Domingos Paes Botão é neto do Domingos sênior, e filho de Manoel Diógenes Paes Botão e Antônia da Purificação (patriarcas da família Diógenes), estimando-se que tenha nascido entre 1740 e 1760.

Cel. Domingos Paes Botão (segundo), nascido na freguesia do Icó, Coronel de Cavalaria do Icó/CE, casou-se em 23.09.1778 com Teresa de Jesus Maria, egressa de Pernambuco e sua prima legítima, filha de sua tia paterna homônima, Teresa de Jesus Maria, casada com o Licenciado Miguel da Silva, este da família Saldanha.

Como já revelado no artigo acima mencionado, durante o seu matrimônio com a prima, Cel. Domingos Paes Botão (segundo) manteve um concubinato com uma índia do Ceará, possivelmente da tribo Tapuia, chamada Narcisa Dias, com quem teve um filho natural chamado de Quirino de Oliveira. Chama a atenção, Prof. Augusto Lima, em seu Livro Famílias Cearenses 7, que, possivelmente, seja este relacionamento de Domingos com uma índia que tenha originado a lenda da Índia Antônia da Purificação, uma vez que a tradição oral tenta melhorar a imagem familiar, pois, naquela época, havia mais status em se casar com índia do que com mulata, filha de escravo alforriado.

Plínio Diógenes Botão, em seu Livro “Genealogia das famílias Távora, Diógenes, Pinheiro”, registra, às fls. 308, que o terceiro Domingos Paes Botão (júnior), filho do Cel. Domingos Paes Botão (segundo) e Teresa de Jesus Maria, foi batizado em 30 de maio de 1780, seguindo os passos paternos na carreira militar. Contraiu, mais tarde, núpcias com Francisca Maria das Chagas de Jesus, filha de Manoel das Maretas, com quem teve três, filhos, quais sejam, Antônio Paes Botão, Joaquim Supriano Paes Botão e Manoel Diógenes Paes Botão.

Domingos (Júnior) nasceu em um período de profundas transformações, muitas delas sob os eflúvios dos ideais iluministas, tendo vivenciado as agruras de dois importantes momentos políticos no Brasil: Revolução Pernambucana de 1817 (Revolução dos Padres) e da Confederação do Equador de 1824.

Em relação à Confederação do Equador, Domingos (terceiro) e seu tio, Cosme Diógenes Paes Botão, são citados em várias fontes como testemunhas do assassinato do herói e Presidente da Confederação do Equador, Tristão Gonçalves de Alencar, mais tarde Araripe. Em uma dessas fontes, no livro “Baú de Ossos”, de Pedro Nava, com notas de Carlos Drummond de Andrade (11ª ed; Ateliê Editorial/SP), o autor, ao narrar o assassínio de Tristão Gonçalves, sugere uma importante revelação, conforme se verifica no trecho abaixo, pinçado das fls. 164:

“Ele caiu em 31 de outubro de 1824, em refrega bruta e rápida. ‘Está morto, Capitão’. Depois da descarga, vararam-no a sabre, cortaram-lhe uma orelha e a mão direita para servirem de troféus. Encostaram seu cadáver nu e hirto numa jurema. Em pé. Ao sol e ao vento do sertão, ele não de decompôs. Múmia seca, foi levado para Santa Rosa, onde ficou dois meses apoiado a um pereiro e sofrendo o ultraje das pedradas e dos tiros da canalha, até que foi enterrado pela caridade de seu primo, o Coronel Domingos Paes Botão”.

Como se vê, Pedro Nava atribuiu ao Cel. Domingos Paes Botão (terceiro) o parentesco de primo de Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, sendo, em conseqüência, sobrinho de Bárbara de Alencar, tangenciando a família Alencar, do Almirante Alexandrino de Alencar e do escritor José de Alencar (este sobrinho de Tristão Araripe). A veracidade dessa informação deve ser investigada mais amiúde posteriormente.

Um parêntese na história dos Domingos. Nesse mesmo período do final do Século XIX e início do Século XX, há vários atos da recente República Brasileira, que davam conta de importantes fatos da vida diária dos descendentes de Domingos Paes Botão (sênior), conforme se verifica em Decretos do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, publicados em Diário Oficial da União, como as edições de 08 de abril de 1896 (pág. 03, Secção I – remessa às coletorias das patentes dos oficiais José Diógenes Paes Botão, Joaquim Diógenes Paes Botão e Antônio Diógenes da Silva Botão); de 05 de novembro de 1902 (pág. 02, Secção I – nomeação dos seguintes oficiais para a Guarda Nacional: Comarca de Jaguaribe-Mirim: Capitão - Ajudante de Ordens Sizenando Diógenes Pinheiro; Capitão Vasco Paes Botão, Tenente Pedro Paes Botão; Alferes Cornélio Diógenes Saldanha; Capitão Manoel Diógenes Paes Botão – este possivelmente avô de Lafayete Diógenes Maia; Alferes Antônio Diógenes Saldanha; Capitão – Ajudante de Ordens Cornélio Paes Botão; Capitão Francisco Diógenes Paes Botão; Major Fiscal Manoel Diógenes Pinheiro; Tenente Napoleão Diógenes Saldanha; Alferes Hermógenes Diógenes Saldanha); e do dia 28 de abril de 1932 (pág. 4, Seção I – nomeação de Domingos Paes Botão (quarto?) – este homônimo, possivelmente neto do Júnior, para segundo suplente do substituto de Juiz Federal, no Município de Jaguaribe-Mirim.

Depreende-se, dos nomes acima elencados, que já no final do Século XIX, a família Diógenes era extensa, numerosa, intrinsecamente ligada às famílias Saldanha e Pinheiro, que as compartilhavam o mesmo tronco genealógico de Domingos Sênior.

No entanto, as pesquisas devem continuar a fim de que se possa recuperar essa memória familiar importante, devolvendo o brilho ao exemplo de vida desses que antecederam os Diógenes de hoje.

Apesar desse retrato inacabado ora descrito, ainda cheio de lacunas e dúvidas, em virtude da falta de informações, depreende-se que estes ascendentes enfrentaram com bravura as contingências impostas pela vida, e a superação das suas vicissitudes deixaram registrados os seus nomes na história e no coração de seus familiares.

sábado, 17 de julho de 2010

Bilhete manuscrito de Lafayete Diógenes Maia

Por Licurgo Nunes Quarto

Bilhete manuscrito, do próprio punho, de Lafayete Diógenes Maia ao seu genro e compadre Lycurgo, escrito há 65 anos. Uma raridade, alem de ser uma preciosidade. Creio mesmo que é o único manuscrito de Lafayete que não sucumbiu ao tempo:

“Compadre Lycurgo

Peço avisar-me terça feira em que dia reabre-se o normal e o ginásio, pois pretendo botar o José semi-interno. Pretendo ir deixá-los em Mossoró. Queira desculpar o papel e ser a lápis, pois o que tenho na ocasião.
Do sogro, compadre a amigo
Lafayete

Em 24-2-45.”

Observações:

Ao citar José, referia-se ao seu oitavo filho, José Diógenes Sobrinho, que passaria a estudar em Mossoró, semi interno, no então Ginásio Diocesano Santa Luzia, hoje o centenário e legendário Colégio Diocesano Santa Luzia. José Diógenes ficaria morando na casa da irmã e cunhado (Cristina e Lycurgo), e, por ser semi interno, passaria o dia no colégio.

Ao se referir “o normal”, ele quis dizer ‘Escola Normal”, que era uma escola em que estudavam moças que pretendiam ser professoras. E, nela, estudava a sua filha Maria Alzir.

Quando fala em “deixá-los”, está explícito que queria dizer José Diógenes e Maria Alzir.

Portanto, Maria Alzir e José Diógenes, estudando em Mossoró e residindo na casa da irmã e cunhado Cristina/Lycurgo.

Referindo-se ao genro como “compadre”, Lafayete exercia o direito de fazê-lo, uma vez que Lycurgo era o padrinho de crisma de Francisco Sebastião Diógenes, seu Chiquinho, o filho caçula.

Outra constatação que se faz da transcrição do bilhete é que ele, ao assinar, o faz com um “Y” (ípsilon), dirimindo qualquer dúvida quanto à grafia correta do seu nome.

Olhando-se com atenção à data do bilhete transcrito – 24/02/1945 – constata-se que o mesmo foi escrito vinte dias antes do seu falecimento, uma vez que este ocorreu a 13 de março de 1945.

Cristina, por estar cuidando da sua filha Maria Cristina, recém-nascida, pois estava com apenas dois meses de idade (haja vista que nasceu a 13 de janeiro de 1945), e, portanto, sem condições de se ausentar de casa, mandou que José Diógenes e Maria Alzir acompanhassem o pai Lafayete até à estação ferroviária, a fim de que ele embarcasse de volta à Melancia. Foi nesse momento, então, que Lafayete, ao chegar à aludida estação de trem, sofrendo um infarto fulminante, foi a óbito, na presença dos filhos menores Maria Alzir Diógenes (com 18 anos) e José Diógenes Sobrinho (com 15 anos).